A maconha na PUC ou “a Revolta dos acéfalos”
Durante a semana passada, a Reitoria da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a famosa PUC-SP, decidiu finalmente deixar para trás a política do “finjo-que-não-vi” e divulgou um plano de combate ao uso de drogas dentro do campus, notadamente a maconha. Fato visto no Estadão e na Vejinha.
Falando com a experiência de quem passou cinco anos pelas salas do Prédio Velho, Prédio Novo e Corredor da Cardoso, nos cursos de História e Jornalismo (tidos como dois dos mais “maconheiros”), afirmo sem medo de errar que a medida chega em boa hora. Afinal, antes tarde do que nunca.
Na época em que fui membro da diretoria do Centro Acadêmico Benevides Paixão (Jornalismo, Publicidade, entre outros cursos), lá pelos idos do começo da década do ano 2000, chegamos ao absurdo de fazer um plebiscito para saber se deveria ou não ser liberado o uso de maconha dentro do espaço do CA - um misto de inocência, excesso de confiança na democracia e burrice, tudo motivado por aquele clima de “vamos mudar o mundo”, muito justo e necessário durante a faculdade.
Quem estuda ou estudou em outras universidades acha essa história toda muito estranha, pois não faz sentido uma instituição (ainda mais uma do gabarito que, supostamente, a PUC possui) ser um local em que se fuma maconha livremente. Mas sim, lá na PUC é assim mesmo. As pessoas fumam até mesmo em salas de aula durante os intervalos. Mais do que triste, é uma situação descabida, a qual o atual reitor faz muito bem em se opor.
Alunos brigam e esperneiam pela decisão. Mas vamos lá, qual é o motivo desse questionamento? Lutar porque a reitoria está empenhada em cumprir a lei? No mínimo ridículo.
Os contrários à determinação de apertar o cerco aos usuários da erva dizem que estão sendo cerceados em sua liberdade. Mas que liberdade é essa? A de fazer algo que é classificado como crime pela Lei Federal n.º 11.343? Não faz o menor sentido.
A universidade é, sem dúvida alguma, o espaço para a discussão de temas polêmicos da sociedade. E não há nenhum questionamento acerca de a descriminalização ou não da maconha é um desses temas. Mas não se pode confundir vanguardismo com baderna. O fato é: maconha é crime. Hoje é assim. Se amanhã não será, esse é outro ponto.
O que não se pode é macular um espaço criado para a ampliação e criação de alto conhecimento com a utilização fora de propósito, transformando o local num oásis da falta de lei.
Os defensores da maconha na PUC parecem esquecer (muito comodamente, diga-se de passagem) que a compra de drogas financia o tráfico. Uma atividade ligada diretamente ao que há de mais podre no crime organizado. Quem compra a menor quantidade que seja de droga está ajudando a aliciar crianças, a aumentar as estatísticas de mortes entre adolescentes e a entupir as cadeias de gente. Onde está a liberdade? Onde está o benefício? Onde está a vanguarda do movimento estudantil?
Só respeito alguém que diga que não é assim que funciona se essa pessoa plantar a própria erva. Mas, ainda assim, faço a ressalva de que continua sendo ilegal.
Enquanto isso, naquela mesma PUC, muitos professores fingem que dão aulas, os laboratórios estão sucateados, não há uma política consistente de bolsas de estudo, menos ainda de apoio a atividades culturais e esportivas. E os alunos ainda se dignam a brigar porque não podem mais fumar maconha. É de um egoísmo atroz.
Isso sem falar naquilo que deveria indignar ainda mais os dirigentes dos Centros Acadêmicos: a proposta de colocação de catracas, impedindo o livre trânsito da comunidade pelo campus. Isso sim uma afronta à tradição democrática da PUC.
A decisão do reitor de combater a maconha com empenho é sim digna de aplausos. Mas que não seja mais um factóide político. Além disso, os tais bedéis precisam estar atentos a toda universidade. Não somente nos cursos que já possuem a pecha de serem maconheiros. Porque não é só no CACS (Centro Acadêmico de Ciências Sócias), no Benevides e no CASS (Centro Acadêmico de Serviço Social) que se fuma. No C.A de Direito, menina dos olhos da direção da Universidade, de onde saem pessoas para grandes escritórios e tudo mais, também se fuma. O mesmo vale para o C.A da FEA (Administração e Economia).
Eu já pensava assim antes, quando ainda era estudante (e me posicionei dessa forma no tal plebiscito que falei anteriormente), e continuo com a mesma posição. Não se pode nunca confundir o debate saudável e enriquecedor – inclusive sobre a maconha – com bandalheira. É fundamental entender que, ao fazer algo que é contra a Lei e ainda por cima prejudica outros, qualquer possibilidade de ser levado a sério se esvai. Perde-se a capacidade de ter respeitada sua argumentação.
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