sexta-feira, setembro 24, 2010

16 vistos aos 30

Fazia pelo menos 6 anos que eu não assistia um dos clássicos do falecido John Hughes, Sixteen Candles, que tem o título medonho de “Gatinhas e Gatões” aqui no Brasil.

Ainda consigo me lembrar com muita clareza de como adorava o filme quando era moleque. Era um dos mais passados na Sessão da Tarde. Ou pelo menos é assim que ficou gravado na minha memória.

Revendo hoje, graças à homenagem que o Telecine Cult vem fazendo a Hughes, acredito ter conseguido identificar o que faz essa produção ser tão relevante para quem tem entre trinta e quarenta anos atualmente.

Hughes tem a capacidade de captar e colocar na tela aquilo de mais dolorido e real na vida dos adolescentes. Mesmo com questões como “ganhar um carro” estando distantes de quem tem 16 anos no Brasil, aquela nuvem estranha que parece sobrepor-se à realidade adolescente, nublando decisões, anseios e expectativas está ali. E cada um dos personagens se encaixa perfeitamente em alguém que você conhece/conheceu.

Pode ser o exagero das situações, como o bando nerd pagando para ver a calcinha de uma menina no banheiro da escola, ou o jeito cool fingido de quem quer parecer que sabe muito mais do que realmente sabe – como todo adolescente. Não importa. O fato é que a empatia é enorme.

A cena de abertura, mostrando apenas pés, dorsos e braços abraçados é genial. Sem mostrar nenhum rosto, já se define a qual tribo cada personagem pertence e como isso definirá os caminhos que ele irá percorrer. Evidentemente (e aí mora a graça do filme), muitas dessas expectativas serão frustradas. Outras se completarão, afinal, a mocinha tem que ficar com o mocinho no final, para que as coisas se encaixem e alegrem a platéia. A porrada de Hughes está nas entrelinhas, não na estrutura tradicional.

É quando ele faz o galã questionar o vazio de seus relacionamentos. Ou ainda quando o novato nerd consegue ficar com a gostosona e ambos gostam disso. E também ao ver a irmã mais velha linda e cobiçada no passado entrando num casamento fadado à mediocridade.

A ação de Sixteen Candles se passa toda em dois dias. Com uma bela noite interligando-os. E quem nunca teve uma noite louca, que começou de uma forma e terminou completamente fora das expectativas, muito melhor do que se poderia imaginar?

Assistir a um filme como esse, simples, tranquilo, sem nenhum truque ou efeito especial, apenas atuações especialíssimas de gente como Anthony Michael Hall e a eterna musa, Molly Ringwald, demonstram a falta absurda que John Hughes faz ao cinema atual, que privilegia a técnica em detrimento do conteúdo.

Hughes, com roteiro, atores e direção, consegue nos levar para um mundo muito mais rico, criativo e emocionante que qualquer Pandora criada por computador.



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