sábado, maio 03, 2003

X2: A Hora dos Mutantes

Escrevi uma crítica sobre o melhor filme que vi este ano (sem brincadeira!!), X2, a segunda película trazendo os mutantes da Marvel.
Cliquem aqui e vão lá ler. Vai, vai... Tão esperando o quê??

:-)


sexta-feira, maio 02, 2003

Dominando a Besta

Quando chegou, a visão de toda aquela gente e do mar de edifícios o assustou. Ele sabia que ali era seu lugar e que tinha que achar seu caminho. Sobreviver era necessário. Para que seus sonhos tornassem-se reais, seria preciso agüentar muito, de tudo e de todos.

E ele era um grande sonhador. Sempre foi. Era a sua válvula de escape. Nunca foi muito querido quando pequeno. Não pela família, que o amava loucamente . Mas pelos colegas. Crianças podem - e sabem - ser cruéis quando querem. Sofreu muito por ser diferente.

Isso é interessante de se dizer. Como o ambiente tem uma influência decisiva sobre as pessoas. Ele foi considerado diferente durante a maior parte de sua vida, mas teve uma reação positiva em relação a isso. A força para suportar os olhares tortos das outras crianças fez dele um homem preparado para enfrentar a maioria dos desafios que a vida traria com o passar do tempo. Essa força vinha de seus sonhos. Vinha da energia retirada de um mundo que era só seu.

Agora, o desafio era outro. A grande metrópole o tragava, e ameaçava dilacerá-lo. Chamava aquele lugar de “filial do inferno”. Não conseguia se sentir a vontade ali. Faltava-lhe algo sempre. Era muito difícil suportar a pressão. Mas ele, no fundo, sempre soube que tinha obrigação de estar ali. Que não havia escapatória. Era isso ou o limbo do obscurantismo e da mediocridade. E ele sempre foi um líder, não podia se rebaixar e não suportava errar.

Então decidiu parar com a frescura e chamar o monstro pra briga: “Um de nós vai cair aos pés do outro, e certamente não serei eu!”, disse do alto de um dos maiores edifícios, de onde podia ver quase toda a cidade.

Aos poucos foi se ambientando. Ia caminhando por dentro das veias daquele mamute de concreto e, como um vírus, espalhava-se rapidamente. Conquistava novos territórios a cada dia. Nada escapava de seus olhos e ouvidos atentos. Seu quintal crescia a cada dia.

Hoje, já se sente em casa em grande parte daquela, agora, vila. Mas percebeu que a apropriação de novos espaços é constante. Talvez quando estiver mais velho - bem mais velho - e a sede de conhecimento tiver diminuído, ou até mesmo acabado, ele sossegue. Talvez até volte para aquele rincão de onde saiu... E ao invés de buscar o saber, passe a compartilhá-lo.


quinta-feira, maio 01, 2003

Superman's Song
Crash Test Dummies

Tarzan wasn't a ladies' man
He'd just come along and scoop 'em up under his arm
Like that, quick as a cat in the jungle
But Clark Kent, now there was a real gent
He would not be caught sittin' around in no
Junglescape, dumb as an ape doing nothing

[CHORUS]
Superman never made any money
For saving the world from Solomon Grundy
And sometimes I despair the world will never see
Another man like him

Hey Bob, Supe had a straight job
Even though he could have smashed through any bank
In the United States, he had the strength, but he would now
Folks said his family were all dead
Their planet crumbled but Superman, he forced himself
To carry on, forget Krypton, and keep going

Tarzan was king of the jungle and Lord over all the apes
But he could hardly string together four words: "I Tarzan, You Jane."

Sometimes when Supe was stopping crimes
I'll bet that he was tempted to just quit and turn his back
On man, join Tarzan in the forest
But he stayed in the city, and kept on changing clothes
In dirty old phonebooths till his work was through
And nothing to do but go on home


quarta-feira, abril 30, 2003

Somebody save me

Argh!! Vai... eu vou passar o feriadão inteiro em Sampa. Sexta tenho que trabalhar e segunda bem cedo tenho que ir pra Brasília.
Minha casa tá reformando e tá parecendo Bagdá.
A grana tá curta e por isso não tem muito como fugir.

Alguém me dá uma luz, pq tá bem foda? Vai, qquer coisa tá valendo... quem mais estiver preso aqui na capitarrrr, avisa e vamos combinar de fazer uma zoeira qquer... Sério mesmo, povo. Tô esperando os convites.

A Caixa
Final

SALA

Ao sair da cozinha, Paulinha vê os dois truculentos se esforçando para abrir a caixa com o pé de cabra e Valda entrando pela porta com uma galinha morta numa mão e uma vela vermelha na outra.

Sheila, sua amiga, está no sofá com o cão Átila no colo.

No canto da sala, João olha, com a mão no queixo, tentando entender o que acontece em sua casa. Ela vai até ele e oferece o pouco de água que ainda resta no copo.

Ele agradece, mas recusa. Ela olha para ele com um sorriso tímido e ele faz o mesmo.

Sheila, olhando de canto, levanta-se e vai até a caixa.

SHEILA: Mas vocês são muito burros não? Olha aqui do lado. Está escrito “To open press the button”.

MINOTAURO: E que diabos quer dizer isso???

CARLÃO: E desde quando você fala inglês?

SHEILA: Não falo. Mas isso tava escrito na caixa do emagrecedor elétrico que eu comprei...

Nesse momento Chiquinho volta da cozinha, Juliana atrás dele arrumando a roupa.

CHIQUINHO: Então dá licença que isso é serviço pra profissional.

Chiquinho aperta o botão e a caixa se abre.
Ao abrir, o apito fica ainda mais alto.

Todos em volta olham e vêem um relógio digital com os números em vermelho: 3....2....1....

RUA MOSTRANDO A JANELA DO PRÉDIO

BUUUUUUUUUUMM!!!
Janela e todo o prédio explodem.

-Corte –

Televisão mostrando o telejornal.

Locutor: O Comando Vermelho assumiu a autoria do atentado na tarde de hoje no Edifício Casa Branca no Rio de Janeiro que destruiu 10 quarteirões em Copacabana.

BAGDÁ – IRAQUE – UM BUNKER SUBTERRÂNEO

Saddam e seus conselheiros estão na sala de reunião, ele dirige a palavra especialmente a um deles que está de pé.

SADDAM: Washington já era para estar em chamas. Se essa bomba não explodir, eu pessoalmente vou tirar o seu coração com uma colher.

Um secretário de Saddam entra na sala e entrega correspondência para o presidente.

É uma carta da FedEx e lê-se:

Obrigado por escolher a FedEx, por um problema nosso a sua correspondência foi extraviada mas estamos fazendo todos os esforços para encontrá-la. Desculpe pelo transtorno. Para mais informações ligue no SAC da FedEX pelo 0800.

Entra créditos tocando a música do Elvis: “Return to sender”


Novos velhos amigos

Tem novidades ali do lado. A primeira é minha amiguinha Caroletas, uma mulher de Pés de Peixe.

A outra é uma pessoinha especial, que me fez rever muitos conceitos e acrescentou muito para mim... e continua acrescentando. É Anita... que adora fazer suas Confissões


terça-feira, abril 29, 2003

Mutunas!!!

É a semana mutante na Legião do Mal.

Homenagem ao X2 que estréia em 1º de maio. Vão lá ver que tá legal!


A Caixa
Parte 3

SALA DO APARTAMENTO

Um cachorro da raça Pit Bull vem correndo no corredor e pula no peito de João, depois de atropelá-lo, vai em direção da caixa, fica cheirando e depois começar a latir.
O dono do cachorro chega correndo à porta de João. MINOTAURO é o seu nome, vinte e poucos anos, forte, truculento e viciado em anabolizantes.

Minotauro entra correndo no apartamento, atrás dele está CARLÃO, seu melhor amigo, vinte e poucos anos, forte, e que já teve um caso com Sheila.

MINOTAURO: (imperativo) Átila, junto, agora.

Minotauro se vira para João que está caído no chão, estende a mão falando:

MINOTAURO: Mal aí, meu velho. Esse cachorro é foda.

Nesse momento Sheila sai da cozinha e cruza seus olhares com Carlão.

CARLÃO: (furioso) Que putaria é essa e que porra você tá fazendo aqui??

Sheila ajeita os seios e os cabelos para provocar Carlão, dando a entender que tinha acabado de dar uns amassos com João.

SHEILA: Seu grosso, o que você tá fazendo aqui? Sai daqui.

Minotauro derruba João no chão com um golpe e prepara para socá-lo.

MINOTAURO: O que a mina do meu camarada tá fazendo na tua casa, rapá?

João fecha os olhos e quando Minotauro vai dar um soco nele, a caixa começa a apitar sem parar.

Todo mundo olha pra caixa.

MINOTAURO: Que porra é essa?

João abre os olhos.

JOÃO: Uma caixa.

MINOTAURO: Eu sei que é uma caixa, mas que apito infernal é esse? Desliga essa porra.

JOÃO: Eu não sei.

MINOTAURO: Não sabe o quê?

JOÃO: Desligar.

MINOTAURO: Abre a caixa porra.

JOÃO: Eu não sei.

MINOTAURO: Não sabe o que caralho?

JOÃO: Abrir.

CARLÃO: A caixa não é sua, abre ela e desliga essa merda.

JOÃO: Eu não sei.

CARLÃO: O que você não sabe?

JOÃO: Se essa caixa é minha.

MINOTAURO e CARLÃO: (furiosos) Você não sabe nada, porra!!

Os dois ficam olhando a caixa, analisando e tentam abrir. Fazem de tudo, socam, chutam, dão chaves de pernas e braços, tudo em vão.

Com a gritaria a empregada do apartamento vizinho aparece, VALDA, cinqüenta e poucos anos, negra e macumbeira.

VALDA: Ôxe! Cêis falam muito alto, dona patroa tá dormindo.

Ela olha a cena cômica dos dois marmanjos tentando abrir a caixa de metal.

VALDA: Cêis num querem um abridor não.

Minotauro e Carlão não respondem, nessa hora até o porteiro Chiquinho começa a ajudar os dois. O apito não pára de tocar e o cachorro de latir. Valda volta para casa.

PAULINHA, bonita, vinte e poucos anos, tímida, amiga de Sheila aparece de fininho na casa.

PAULINHA: O que tá acontecendo?

Sheila estava cuidando do assustado João e vê a amiga na porta.

SHEILA: Ai amiga, isso aqui tá uma loucura.

Valda volta e a sua filha JULIANA, morena de 18 anos, bonita, acompanha a mãe.
Valda se dirige aos rapazes na caixa.

VALDA: Ói isso aqui não ajuda não?

Valda mostra um abridor de lata.

Os três olham surpresos.

Chiquinho vê Juliana e fica encantado. Minotauro vira para Valda:

MINOTAURO: Aí véia, tá tirando? Eu não quero abrir lata de atum não. Se liga na idade dessa caixa.

VALDA: E que tal esse aqui seu muleque atrevido?

Valda mostra um pé de cabra que estava na outra mão escondida atrás das costas.

MINOTAURO: Agora a véia tá falando minha língua.

Minotauro pega o pé de cabra e tenta abrir a caixa.

Carlão olha para João que está no colo de Sheila.

CARLÃO: E você rapá, eu não esqueci de você não. Assim que eu abrir essa porra vou dar um jeito nessa sua cara.

PAULINHA: Viu, onde eu posso pegar uma água?

João acena com a cabeça e aponta a cozinha.

COZINHA

Paulinha procura um copo mas não acha. Ela vê Juliana na porta e pergunta:

PAULINHA: Cê sabe onde tem um copo?

Juliana entra na cozinha e demonstra grande familiaridade com a casa, abre o armário e pega um copo.

Paulinha acha estranho.

Seu Chiquinho entra na cozinha, de olho em Juliana.

CHIQUINHO: E aí minha gata como está?

JULIANA: Tudo bem, meu negô.

CHIQUINHO: To com uma saudade do teu cangote...

Chiquinho pega a mão de Juliana, ajoelha e dá um beijo.

Juliana levanta Chiquinho com um dedo no queixo e olha com olhar de safada.

Chiquinho tira uma caixa de fósforos do bolso e começa a tocar um samba. Juliana na hora começa a sambar.

CHIQUINHO: (cantando) ... esse teu decote me tira o sossego,
vem me dar um chamego se você quiser,
o seu remelexo é um caso sério,
esconde um mistério que eu vou desvendar,
mas você pitelzinho faz logo um charminho pra me maltratar.
Não faz assim que eu posso até me apaixonar,
Faz assim que eu posso até me apaixonar.
Não faz assim que eu posso até me apaixonar,
Faz assim que eu posso até me apaixonar.

JULIANA: Ai, você ainda tem a chave extra do viadinho que mora aqui?

CHIQUINHO: Claro... malandro é malandro, mané é mané... final de semana quando ele sair fora, a casa é toda nossa, princesa.

PAULINHA: Ele é viado? Tinha achado ele tão bonitinho...

Chiquinho e Juliana se espantam com a presença de Paulinha, como se tivessem se esquecido de que ela estava ali.

CHIQUINHO: Ah, sei não... nunca vi ele com mulé...

JULIANA: Eu já passei aqui voltando da praia várias vezes e ele nunca nem deu aquela conferida. Homem que não olha pra bunda de mulher quando ela passa de biquíni só pode ser boiola.

Paulinha olha para os dois pensativa, faz cara de nojo e volta pra sala, com um copo de água nas mãos.


segunda-feira, abril 28, 2003

A Caixa
Parte 2

SALA DO APARTAMENTO

Ao voltar para sala a campainha toca. Ele abre a porta e encontra SHEILA, trinta e poucos anos, vaidosa, sensual e bem perua.

SHEILA: (voz sensual) Oi vizinho.

JOÃO: Oi.

SHEILA: Nossa, que faca é essa? o que você tá aprontando?

JOÃO: (confuso) Não é que... (olha para caixa) ah.... eu...

SHEILA: Ai gatinho, não precisa se explicar. Posso te pedir um favorzinho, é que eu ia fazer um chazinho para mim e quando eu vi, tava sem açúcar. Será que você pode me arrumar uma colherinha?

JOÃO: Po... posso, pode entrar, por favor.

João vai para cozinha procurar o açúcar. Enquanto Sheila fica na sala olhando a casa e repara na caixa. Enquanto ela fica analisando o objeto prateado, João grita da cozinha.

JOÃO: Então, eu não tô achando o açúcar, não serve mel?

COZINHA

Sheila encosta-se ao batente da porta da cozinha e fala:

SHEILA: Eu adoro mel.

João, com o mel na mão, fica meio assustado. Sheila aproxima-se de João que começa andar de costas, com medo de Sheila. Até que bate com as costas na geladeira. Sheila pega os dois pulsos dele e prensa João contra a parede.

SHEILA: Mel é uma delícia.

Toca a campainha.

JOÃO: (ainda assustado) A porta... eu preciso atender, diz apontando para porta.

SHEILA: (brava) Ai, desencana de porta.
João se afasta enquanto Sheila segura a sua mão.

SALA DO APARTAMENTO

João atende a porta e está o porteiro CHIQUINHO, quarenta e poucos anos, mulato, vaidoso, sambista e extrovertido no corredor. Eles ficam conversando na porta.

JOÃO: Fala Chiquinho.

CHIQUINHO: Ô seu João que bela segundona hoje, não? Aliás a segunda virou o dia oficial do Parmera.

JOÃO: (bravo) Não converso mais sobre futebol. Meu negócio agora é tênis, Guga, Meligeni, Jaime Oncins, Cássio Mota.

CHIQUINHO: Pô seu João, tem cara aí que já tá no asilo.

JOÃO: Deixa pra lá...

CHIQUINHO: Ô, eu trouxe o condomínio do senhor.

Ouvem-se latidos de cachorro no corredor. Vozes de um cara gritando:
“Átila, Átila, volta aqui.”


domingo, abril 27, 2003

Crítica do dia

Mais um texto que escrevi em outros tempos... mas vi o livro em casa, me lembrei da história e de como tem uma certa relação com o momento. É bem diferente das outras críticas que escrevi. É uma resenha literária, mais longa e pensada. Lá vai:

As Cabeças Trocadas
Thomas Mann mostra como amar sempre é complicado

“As Cabeças Trocadas” (Nova Fronteira - 108 pág., tradução de Herbert Caro) não é um dos romances mais conhecidos e comentados de Thomas Mann. É difícil definir porque isso acontece. Afinal, trata-se de uma belíssima história de amor. E, como não poderia deixar de ser, ela é muito bem contada.

O que afasta os leitores talvez seja algum tipo de preconceito, pois “As Cabeças...” foi tirado do, já lendário, Kama-Sutra. É uma lenda indiana, portanto ali estão mitos e deuses indianos. Isto, para os menos abertos à novas idéias e formas de ver o mundo, pode causar um certo estranhamento. Mas a trajetória fantástica dos protagonistas - Sita, Nanda e Shridaman - pode ser transposta para qualquer época e lugar.
O escritor alemão, autor de clássicos como “A Montanha Mágica”, consegue aqui fazer a união perfeita entre ocidente e oriente. Quem pensa que esta obra, por ser tirada do já citado clássico do erotismo, seria carregada por uma dose extra de volúpia se engana. A linguagem é dura, concreta. Não há margem para interpretações dúbias, para a formação de imagens errôneas na mente do leitor. O máximo que se concede é a interpretação do que é contado.
Mesmo sendo carregado de uma forte temática mitológica e fantasiosa, tudo está dito, e de forma clara e concisa. As formações gramaticais chegam até a ser pedantes em alguns momentos, devido ao extremo cuidado e refinamento técnico. Mas mesmo assim, a narrativa possui uma fluidez notável. O único trabalho é retirar dali o melhor possível.

A ação se inicia quando os amigos Nanda e Shridaman saem em uma viagem de negócios. O primeiro é fazendeiro, tem o corpo forte e rijo, formado pelos rigores do trabalho duro. O outro é filho de mercador e segue a profissão do pai. É contemplativo e filosófico, e de nada se assemelha em vigor físico com o companheiro. No desenvolvimento da trama, estes detalhes sobre eles serão de profunda importância.

Ao passar por um templo ambos vêem um jovem banhar-se totalmente despida. É Sita. A visão daquela beldade acaba deixando Shridaman completamente apaixonado. O tempo passa e, depois dos arranjos necessários, ele acaba se casando com ela.
Até aí, não há nada de anormal. O romance é até um tanto quanto banal. O desenrolar da história é que faz com que o leitor se surpreenda e se encante com a narrativa. O desejo que Sita possui pelo melhor amigo de seu marido, a percepção deste de que sua esposa deseja outro e a culpa sentida pelo desejado, sem que nem mesmo tivesse sido consumado o ato da traição, tudo isso poderia ser contado de forma trivial, mas Mann consegue habilmente conduzir o leitor por um caminho onde filosofia, mitologia e fantasia se unem harmoniosamente.

O livro então passa a mostrar que possui mais do que uma história sobre amor, casamento ou amizade. Trata-se sim do dilema sempre presente sobre a maneira pela qual devemos tomar nossas decisões na vida. Para escolher um caminho, é melhor nos basearmos nas emoções ou na razão?
É neste ponto que a presença fortíssima do narrador impõe sua marca decisiva. Ele sempre dialoga com o leitor, instiga-o, convoca-o a refletir sobre os fatos, inquieta-o. Está o tempo todo tentando convencê-lo de que está sendo imparcial em seu relato, que sua função - e também a de quem está lendo - não é a de julgar. O narrador está ali só para contar o que aconteceu. E o leitor deve se utilizar do que está sendo contado para saber a melhor forma de conduzir sua própria existência.
Mas o caminho para tanto não é fácil. Afinal, o título não é “As Cabeças Trocadas” à toa. Os personagens realmente trocam as cabeças de corpo. Um assume o físico do outro, e as conseqüências disso para a esposa e para eles próprios são, no mínimo, assustadoras. Conseguir perceber que esta é uma forma fantástica de se mostrar as intensas - e eternas - contradições internas do homem quando está amando é complicado, e faz o romance merecer uma atenção redobrada.

Outra característica muito interessante que Mann imprime ao livro, é a forma pela qual os hábitos da cultura indiana são apresentados. Mostra-se tudo muito naturalmente, como algo corriqueiro. Não há nenhum tipo de demonstração de espanto em relação aos costumes daquele povo.
Acima de tudo, ao terminar “As Cabeças Trocadas”, fica-se com a impressão de que, mesmo tendo lido um relato extremamente fantasioso, a realidade está mais presente do que nunca e de que o amor pode assumir diversas formas, mas sempre será difícil lidar com ele.