sexta-feira, maio 23, 2003

Para quem me pediu um texto...

Seu sorriso era cativante. Não havia como ficar perto dela e não perceber sua radiante alegria. A menina brilhava, isso era certo. O potencial carregado por ela era tão grande que era impossível não se contagiar. Sua energia era única.
Perdido naqueles olhos escuros, uma alma de menina num corpo de mulher. Ela estava florescendo, nascendo para uma nova realidade. Havia decidido seguir uma estrada feita de letras e sentimentos, construindo ali a sua vida.
Em noites perdidas na cidade escura, uma gata lhe fazia companhia em aventuras por caminhos bons e ruins. Muito ainda seria descoberto. Faltavam pontos para serem preenchidos naquela ficha. E ela não levaria prisioneiros em sua jornada. Seguiria sozinha, aprendendo, conhecendo mais e mais até achar aquele que a acompanharia.
Até chegar àquele ponto, tudo seria muito difícil. Mas a força contida nela era muito maior do que imaginava. Seu futuro era brilhante. Faltava-lhe apenas colocar a cabeça no lugar e decidir seguir em frente, usando o medo como combustível e a inteligência como escudo.


Crítica do Dia

Aí galera, desculpa mas não tô conseguindo escrever coisas novas. Até pq estou escrevendo (ou pelo menos tentando escrever) muitas outras coisas. Assim que sossegar um pouco volto a escrever mais aqui e dou notícias desses meus novos projetos. Valeu a todos pelos comentários, e-mails, etc.

Segue então algo que escrevi no longínquo ano de 1999 quando estava apenas no primeiro ano da faculdade. Homenagem à minha bixete favorita, a adorável Mo.

Preparem-se, pois a próxima parada é Wonderland...

Bossa Gringa

Um casal sentado, num fim de tarde, observando o mar ao som de grandes sucessos da Bossa Nova. Ao imaginarmos um cenário para essa cena, a imagem que surge em nossas mentes é, quase que invariavelmente, a do Rio de Janeiro. Mas essa expectativa é quebrada no bom independente Próxima Parada Wonderland (Next Stop Wonderland).
O filme se passa em Boston e retrata, na maioria das vezes de forma divertida, a sofrida vida amorosa de uma enfermeira, vivida pela atriz Hope Davis. Com um roteiro bem trabalhado e uma movimentação de câmera que chega a surpreender em alguns momentos, o diretor Brad Anderson consegue cativar o espectador e conduzi-lo por uma história que, se fosse produzida por algum dos grandes estúdios, acabaria caindo na mesmice dos Tom Hanks e Meg Ryans da vida.
O Brasil é uma presença constante no filme, com a trilha sonora que traz somente músicas brasileiras muito bem escolhidas, com canções de Tom Jobim, João Gilberto e outros, e um personagem brasileiro, interpretado de maneira caricata pelo ator boliviano Jose Zuniga. Sendo filmado em Boston, um conhecido reduto tupiniquim em terras do Tio Sam, poderíamos ter sido retratados de maneira mais convincente.
Destaque no Sundance Festival e na Mostra Internacional de São Paulo de 98, essa comédia romântica chega para mostrar a força criativa dos pequenos, que em tempos de histórias sem sal e marketing milionário dos gigantes da indústria cinematográfica, conseguem ser sucesso não só de crítica, mas também de público, com estilo e originalidade.


terça-feira, maio 20, 2003

O caminho

Deixou para trás toda aquela estrutura. A vida que havia vivido passou a ser apenas uma lembrança longínqua, que a cada dia tornava-se mais e mais distante. Ele não mais aceitava os ditames que antes lhe eram impostos. Era dono de seu caminho e destino. Nada nem ninguém mais conseguiriam impedi-lo de alcançar aquilo que buscava.
Alguns tomaram sua atitude como desrespeito, birra. Um grito tardio de uma pós-adolescência. Mas em seu âmago, ele sabia que não era isso. Pelo contrário. O caminho agora era o da vida adulta com toda carga de responsabilidade que ela trazia. A único ponto que prometeu para si mesmo, tendo apenas a lua e a brisa noturna como testemunhas, foi de que jamais perderia o olhar de garoto, o sorriso fácil de menino e a alegria de criança. Essas, não havia buraco profundo, nem escuridão gélida, que pudessem tirar dele.


segunda-feira, maio 19, 2003

Resenha do Dia

Faz algum tempo que não colo crítica de disco ou uma resenha literária por aqui. Então, mando agora meus comentários sobre o livro "O Céu e o Fundo do Mar", de Fernando Bonassi. Espero que gostem da leitura.

Mais uma história impossível de amor

Podem o amor e o desejo superar todos os problemas, passados e presentes? É esta a questão que se propõe em “O Céu e o Fundo do Mar” (Fernando Bonassi, 128 pág., R$18,00). Uma história dura, sobre o relacionamento entre duas pessoas completamente diferentes, mas que se unem apesar de tudo que - normalmente - os separaria.

Logo de início algo chama atenção: sabe-se mais sobre os protagonistas lendo a contracapa do que nas 30 primeiras páginas. Até explica-se quem são eles, porém sem muita clareza. Isso pode até confundir e afastar um leitor menos experimentado e que goste de tudo às claras. Porém, a intenção do autor ao fazer isso é claramente não se prender a detalhes que considera de menor importância, enquanto reforça a narrativa de pequenos gestos, de pequenos atos do cotidiano dos personagens.

Este é um ponto interessante de ser notado. Em sua escrita, Bonassi valoriza o que há de mais simples e, ao mesmo tempo, complexo na relação entre homem e mulher. Presta uma atenção redobrada ao que se sente mas que não se diz. Àquelas pequenas coisas que, na prática, não precisam ser ditas quando se está com alguém com quem se compartilha de grande afinidade.

Ela, é uma sobrevivente dos tempos de ditadura, alguém que se revoltou contra o regime imposto ao Brasil naquela época e está por aqui para contar a história. Claro que não sem marcas e feridas ainda a serem curadas. Entre elas o desaparecimento de seu marido.

Seu par na história é um jovem da periferia de São Paulo, que aprendeu a viver e a circular pelos diferentes caminhos que a cidade apresenta, e que sobrevive vendendo drogas para jovens abastados. A forma pela qual eles se encontram é contada de forma breve e corriqueira, sem dar muito motivo. O que importa realmente é que eles se encontraram e sabiam que deveriam estar juntos desde o primeiro momento em que se viram.

Mais um ponto importante de: não se sabe o nome de ninguém no livro. A mulher é simplesmente “a mulher” e o rapaz, é somente “o rapaz”. Não se diz nome nenhum durante toda a narrativa. Além disso, o tempo não se define muito bem durante toda a história. Há uma tentativa de se dizer se é dia ou noite, mas que é um tanto quanto confusa. Mas o tempo maior, dizer em que época se passa o texto, isso só lá pelo final que é possível definir.

Há um ar de impossibilidade sempre permeando o relacionamento dos dois. Num momento é a diferença de idade entre eles, noutro a vida que levam. Mas o que mais complica a situação dos dois é uma intrincada rede de problemas psicológicos da mulher, que é totalmente traumatizada por ter vivido na clandestinidade durante os anos de ferro, além de possuir um imenso sentimento de culpa. Mesmo com o marido desaparecido (provavelmente morto) há muitos anos, ela ainda considera que o está traindo.

Cria-se então uma balança em que estão pendendo todos esses problemas. O que significa que, ao mesmo tempo que ela - devido à sua carência e necessidade - precisa dele e de sua presença, o afasta devido a essas mesmas questões.

A linguagem é extremamente direta, seca. Frases demasiadamente curtas, o que em alguns momentos chegam a irritar tamanha a economia de palavras. Mais do que um recurso estilístico, esse incômodo causado pela leitura de alguns trechos parece ser proposital. É uma maneira de passar ao leitor a angústia dos personagens.

Não há nem divisão de capítulos, a ação é ininterrupta. Lembra em muito o roteiro de um filme. Aliás, o livro parece ter sido criado na expectativa de uma adaptação para a tela grande. A montagem das cenas é toda cinematográfica. E isso faz até algum sentido, visto que o autor é cineasta.

Um certo erotismo também permeia todo o texto. Há muita habilidade de Bonassi nesses trechos. Ele consegue fazer uma mistura da mais pura paixão, com um toque de virilidade, porém sem ser demasiadamente vulgar. Ele é explícito, mas não ofensivo e é isso que consegue cativar. Nesses momentos, é com se ele se soltasse mais, deixasse de lado a dureza com que trata o texto para se deixar levar por algo menos dolorido, mais feliz.

No conjunto todo, “O Céu e o Fundo do Mar” não é um excelente livro. Definitivamente não vai ser a melhor coisa que você já leu. Não é algo inesquecível, mas é interessante. E a título de curiosidade, é recomendável.

Seu problema é que fica um sentimento de que está faltando algo. Pois convenhamos, a idéia de juntar pessoas de dois mundos diferentes e explorar a impossibilidade da relação entre eles não é exatamente nova. Mas ainda é possível tratar diferentes ângulos da questão. E em alguns momentos o autor consegue iluminar alguns pontos ainda obscuros nesse tipo de história. Por isso, e pelo tratamento dado à linguagem, o livro merece um pouco da sua atenção. Mas só um pouco.