segunda-feira, dezembro 29, 2008

Retrospectiva

2008 chega ao fim. O que nos deixa esse ano? Em termos pop, muito pouco. Música? Nada novo explodiu os ouvidos ao ponto de se tornar um clássico instantâneo. Por aqui, vivemos de emos de boutique (NX Zero, Fresno, etc.) a crianças bobas e pré-construídas (Mallu Magalhães). Na TV? A oitava temporada de Smallville tem se mostrado uma surpresa cada vez interessante, enquanto Heroes decepciona, Two and a Half Men e House mantém o nível. E, claro, Sílvio Santos dá uma tacada de mestre com Pantanal. Nas HQs, a Marvel conseguiu realmente afetar o status quo de seu universo, com Secret Invasion e tudo mais que vem acontecendo desde House of M, passando por Civil War. Enquanto a DC segue numa imensa e infindável crise. E o cinema? Bom, aí temos Iron Man e The Dark Knight e o negócio fica especial.

Música

A idiotice forçada de Mallu Magalhães é o ícone maior de um ano em que não se produziu nada de qualidade por aqui. Musicalmente falando, Mallu é até melhor que os seus contemporâneos, como os disléxicos musicais do NX Zero. Mas sair de uma nota – 55 e chegar a zero não é exatamente o que podemos chamar de vitória.

Parece que ninguém se incomoda com o fato dela falar coisas simplesmente impróprias, como nessa pergunta, em entrevista à Rolling Stone:

Você está em semana de provas na escola?

Foi semana passada, só que não consegui fazer algumas. A de química, deixei em branco. Fiz um desenho conceitual, daí tirei zero. A de física, eu nem tentei, só escrevi um poema.

Assim, vivemos em tempos de mulheres-fruta, de bundas, funk carioca e tudo mais. Mas entre erotização precoce e incentivo a não ir para a escola, sinceramente não sei o que é mais nocivo aos adolescentes.

Há uma supervalorização do que é novo, sem a menor avaliação se aquilo possui ou não qualidade. E, no caso de Mallu, soma-se ainda o fato de parecer ser legal estimular uma garota que parece “boazinha” e “inofensiva”. Onde estão as Doro Pesch, Debbie Harry e até Madonnas do mundo de hoje? Continuam sendo as mesmas, pelo visto.

Falando em Madonna, seus shows no Brasil demonstraram o que é o profissionalismo de verdade no show business. Podem dizer que ela dubla algumas músicas e que isso é mentir para o público. Só que isso não é um argumento válido. Quem esteve no Morumbi ou no Maracanã assistiu espetáculos fenomenais. União perfeita entre dança, luz, som, palco e tudo mais. Anima o público com uma energia fora do comum, propiciando momentos inesquecíveis. E, numa boa... vai pular do jeito que aquela mulher pula aos 50 anos e vê se consegue ainda cantar sem desafinar (o que ela faz, diga-se de passagem).

TV

Algum novo show se tornou impossível de não ser assistido? Realmente não. Boas estréias, como Eleventh Hour e The Mentalist se mostram promissoras, mas não chegam a verdadeiramente a empolgar. Parecem todas, de uma maneira ou de outra, rip-offs de Law and Order. Essa sim, em sua versão SVU, continua destruidora. Lá nada é sagrado e cada episódio bate com força maior na cara dos espectadores.

No campo mais fantasioso, a nova temporada de Smallville foi a melhor surpresa. Talvez seja o cancelamento que parece bater à porta ao final do 9º ano da série, mas agora o caminho de Clark em direção a assumir seu colante azul e capa vermelha está cada vez mais firme, com participações de Doomsday e até da Legião dos Super-Heróis (de uniforme, anel e tudo mais). E as histórias contadas ganharam maior densidade, fugindo da lentidão arrastada das duas últimas temporadas.

Cinema

O ponto mais alto de 2008 foi The Dark Knight. O filme é simplesmente perfeito: da atuação psicótica de Heath Ledger, à direção firme de Christopher Nolan e a dureza e dor transmitidas pelo Batman de Christian Bale.

Cenas já clássicas, como o Coringa enfermeira e o lápis que some, vão ficar marcadas no imaginário coletivo, como o vôo de bicicleta de E.T e a corrida da bola em Indiana Jones.

Como adaptação de Quadrinhos, The Dark Knight só perde para a “bíblia” Superman – The Movie. Mas há uma vantagem para o Homem-Morcego. Esta sua produção é muito mais que uma adaptação. É um filme excelente, como há muito Hollywood não produzia. Transcende o gênero e se apresenta às massas como um entretenimento complexo, de digestão difícil, dolorido. Mas ainda assim (e talvez por isso mesmo) espetacular.

Já aqueles com dificuldades em assimilar a insanidade do Cavaleiro das Trevas puderam se deliciar com o maravilhoso Iron Man. Se a Marvel havia acertado com os dois primeiro filmes dos X-Men e do Homem-Aranha, com o Homem de Ferro o nível subiu para níveis estratosféricos.

Na seqüência de abertura do filme, ao som de AC/DC, já se percebe algo diferente. Isto é HQ transformada em cinema. Não uma transferência literal como em Sin City e 300, mas uma transformação. Robert Downey Jr encarnou Tony Stark de maneira viceral. Nos extras do DVD há cenas do teste de câmera do ator e ali, logo no começo, já é possível perceber como ele conseguiu pegar as nuances do sarcasmo e da egolatria de Stark.

Entretanto, é inegável que o roteiro poderia ser um pouco melhor. Faltou mais embate entre herói e vilão e muito disso vem do fato do Iron Monger não convencer muito. Mas isso acaba sendo compensado pelos belíssimos efeitos visuais (a cena voando entre os caças é de chorar de tão boa) e o saldo é mais que positivo.

HQs

Muito poderia ser dito sobre as grandes sagas que envolveram Marvel e DC neste ano. Mas aí o foco fugiria e tudo parecia ser resumido a batalhas épicas, reviravoltas e retcons que parecem estar se repetindo incessantemente. Mas se voltarmos os olhos para personagens específicos, as coisas melhoram um pouco.

Superman está numa grande fase nas mãos de Geoff Johns e James Robinson. Este último, aliás, voltou a escrever como nos tempos de Starman. Sua edição especial Superman’s Pal Jimmy Olsen foi, disparado, o melhor one-shot do ano. A saga atual, New Krypton, parece estar levando para uma “chacoalhada” bacana, com um senso de inovação que demorou para aparecer nas revistas do Big Blue.

Em Batman as coisas estão ainda mais fortes. Batman RIP é mais uma obra-prima de Grant Morrison. A mistura de força, loucura e determinação, que estão na essência do Homem Morcego, ressurge aqui em toda sua glória. A profundidade alcançada é absurda. É quadrinho de alto-nível e totalmente mainstream. A melhor do ano, com certeza.

Na Marvel, Captain America é o maior destaque. Longe das saídas fáceis e marketeiras de matar um personagem e trazê-lo de volta logo em seguida, esta série está mantendo a mudança após a morte de Steve Rogers e com seu parceiro Bucky como o novo Capitão.

Ed Brubaker faz um excepcional trabalho não deixando cair o nível da série em momento algum, ligando os pontos numa imensa saga, que já dura mais de dois anos. É a melhor coisa da Marvel, sem dúvida alguma.

E no Brasil, a Panini merece alguns elogios. A “Coleção DC 70 Anos” é um exemplo. O número que traz a Liga da Justiça é um dos melhores, com histórias clássicas que não haviam sido publicadas antes no Brasil.

Foram lançados ainda álbuns de capa dura como “Crise na Múltiplas Terras”, “JLA por Grant Morrison” e o melhor de todos: “Starman –Vol. 1”. Relançar Starman, que nunca havia conseguido ser publicado de forma contínua no Brasil foi o maior acerto da editora. E dar um tratamento de luxo é algo mais que merecido para um material de qualidade superior como esse.

E é isso. Que venha 2009 e que consigamos ser melhor entretidos neste novo ano.

Nos vemos lá.