sexta-feira, outubro 24, 2003

Newspaper boy

Talvez o texto que coloco logo abaixo explique um pouco do meu desânimo, comentado no último post. É o release de um debate que vai rolar na ECA (pra vocês de fora de Sampa, ECA significa "Escola de Comunicação e Artes". É onde rola o curso de jornalismo da USP). Acredito que as informações esclarecem muito sobre a minha vida. Confiram e, quem se interessar, compareça ao debate:

PESQUISADOR ANALISA VIDA DE JORNALISTA E PARTICIPA DE DEBATE NA ECA-USP

A vida pessoal dos jornalistas é precária, com falta de relacionamento familiar por conta das excessivas jornadas de trabalho e vínculos afetivos que se desfazem rapidamente. Eles trabalham em quase todos os finais de semana, mas em compensação resistem bem ao estresse, inclusive se dedicando com paixão à profissão, e nutrindo por ela uma relação de amor e ódio. Nas redações, o ritmo de trabalho a que se submetem é estafante, com jornadas de 12 horas e às vezes, até mais, e estão expostos ao assédio moral e ao rígido controle social.

Ganham muito pouco, se for considerado o grau de exigência que é imposto pelas chefias, o ambiente competitivo em que trabalham, a precariedade das condições de trabalho em muitas redações e a falta de tempo para estudo. Apesar de tudo, têm pouca consciência da importância social de seu trabalho, são muito individualistas e influenciados pela imagem glamourosa que a sociedade possui da profissão, e não acreditam na sua capacidade de organização enquanto categoria profissional.

Estas são as principais constatações de um estudo feito pelo pesquisador Roberto Heloani, advogado, psicólogo, mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Psicologia, pela PUC-SP, em 1991, cujo resumo de tese foi publicado pela editora Cortez, em 94 – Organização do trabalho e administração: uma visão multidisciplinar.

Desta vez, sua pesquisa para o Pós-Doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 2003, levou o título Mudanças no mundo do trabalho e impactos na qualidade de vida do jornalista. “Eu sabia que a rotina desses profissionais era bem complicada, mas não achava que era tanto: foi surpreendente. A deterioração da qualidade de vida do jornalista naturalizou-se, banalizou-se, e isso é grave, pois se trata de formadores de opinião”, diz Heloani.

Entrevistas e análise profunda
No estudo, uma realização apoiada por duas instituições - o Núcleo de Pesquisa e Publicações da FGV e a ECA-USP, ele entrevistou a fundo 44 jornalistas, aplicando testes concernentes ao estresse e à saúde do trabalho, além de fazer discussões em grupos focais. Deste total, o pesquisador escolheu 22 para análise em profundidade, com levantamento de história de vida e entrevistas nos locais de trabalho em várias mídias. Somente as fitas gravadas tomaram mais de mil páginas de transcrições.

Heloani é um pesquisador preocupado com as relações de trabalho depois da reestruturação produtiva empreendida pelas empresas, no mundo todo, há duas décadas. No dia 8 de outubro, lançou o livro Gestão e organização no capitalismo globalizado: história da manipulação psicológica no mundo do trabalho, resultado de sua tese de livre-docência na Unicamp.

O Núcleo de Jornalismo e Cidadania da ECA-USP promoverá no dia 5 de novembro, quarta-feira, às 19h00, um debate com Roberto Heloani e o jornalista e pesquisador Jorge Cláudio Ribeiro, autor de cinco livros, entre eles Sempre Alerta: condições e contradições do trabalho do jornalista, resumo de seu Doutorado pela PUC/SP em 1994. Será no Auditório Freitas Nobre (CJE - Departamento de Jornalismo e Editoração), Escola de Comunicações e Artes, av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443/Bloco A,Cidade Universitária, São Paulo-Capital.

Mais informações:
Jô Azevedo
joazevedo27@uol.com.br
Fone: (11) 9964-3727


quinta-feira, outubro 23, 2003

Silent ballroom

A vontade anda pouca. De falar, de escrever. De ser, simplesmente ser. Não consegui definir ainda se é uma fuga ou se simplesmente não há motivos para correr atrás da vida.
É como um imenso salão, numa bela festa. Alguns entram, outros saem. Alguns dançam, outros apenas olham à distância, se perguntando quando chegará a sua vez de dançar. Porém, há um terceiro tipo de pessoas. São os que estão ali sem querer estar. Mas que percebem que pode ser bom se integrar ao movimento. O receio ainda dominava. Só que não era nada que um belo sorriso não pudesse quebrar. Isso é o limiar da noite, trazendo o limbo para freqüentar à noite nem um pouco serena.

segunda-feira, outubro 20, 2003

"Crescei-vos e mutiplicai-vos"

Este final de semana assisti ao filme “Aos Treze”. Um filme independente que conta a história de Tracy, uma garota americana normal de treze anos de idade que, para se tornar uma das garotas “cool” da escola, se envolve num turbilhão de drogas, sexo e crime.
O filme me perturbou. Pesado demais. Nem tanto pelo que acontece, mas especialmente pela idade das protagonistas. Treze anos é muito pouco!!!
Percebo claramente que a fita me perturbou mais pq tenho uma criança de dez em casa, que não é meu filho, mas é como se fosse. E ser pai é algo bem difícil. Sempre foi, mas nos dias de hoje é ainda mais.

Acredito que a combinação de disciplina, atenção e carinho é a melhor. Tem de ser duro na maioria das vezes (aquela velha história de que “você vai me agradecer depois por eu ter te dito não”), tem de estar ali pra quando ele cair. Acho até que a maior parte dos pais faz isso. O problema é lidar com o mundo e seus perigos.

Se por um lado você não pode isolá-lo e fazer com que viva numa bolha de felicidade, largar pela vida é pior ainda. Esse equilíbrio é complicadíssimo. Pq a tendência natural (pelo menos a MINHA tendência natural) é querer separar totalmente do mundo e dar tudo na mão e deixar feliz sempre. Mas eu sei que isso é ruim – pq ele precisa quebrar a cara pra ver que o mundo não é um lugar legal. Só assim vai ficar forte o suficiente para agüentar o tranco.

E tem mais uma coisa: dói ver o crescimento. Não é fácil ver o seu bebê largar da sua mão e começar a andar sozinho. Complicado. No fim, o que podemos fazer é ficar ali, estar ali. Sempre, em todas as horas. Ajudando ele a levantar quando cair, mostrando o caminho que achamos melhor. E dando o melhor de nós, aguardando apenas que o resultado final seja positivo. Este é o único jogo que nunca termina.