quarta-feira, novembro 16, 2011

Homens de Honra: a máfia ataca os quadrinhos


Que as HQs são meios capazes de contar qualquer tipo de história já não é novidade alguma. Mas seria possível alcançar o nível de envolvimento e profundidade que alguns gêneros - como o policial, por exemplo, pedem? Homens de Honra, lançamento da Panda Books (em sua primeira empreitada no mundo dos Quadrinhos) demonstra que sim e com a qualidade mantida em alto nível. 

É interessante ver como o mercado nacional de HQs está cada vez se abrindo mais e permitindo a publicação de uma obra como essa. Os autores brasileiros dificilmente se aventuram pelos thrillers. Parece haver uma preferência geral por dramas, psicodelias sensíveis e comédias. Vez ou outra alguma aventura e os super-heróis de sempre produzidos pelos brazucas, mas publicados pelas grandes editoras lá de fora.

A pergunta do primeiro parágrafo deste texto é uma provocação barata. É claro que uma boa narrativa policial pode ser escrita nos quadrinhos. Ed Brubaker, acompanhado de Greg Rucka, demonstrou isso na excepcional série Gotham Central, em que fazia os policiais da cidade quiróptera se transformarem em estrelas dignas de um CSI ou de um Law & Order, às vezes até melhor do que nos acostumamos a ver na TV. Ele ainda fez os ótimos trabalhos autorais no gênero, com Criminal e Incognito.

O já transmidiático Sin City nada mais é do que uma grande - e excelente - história policial, com todas as nuances e clichês que o gênero pede. A arte de Frank Miller dá o ritmo certo para o leitor acompanhar as desventuras de desajustados na mais desajustada ainda Basin City.

É justamente Sin City a inspiração maior para este Homens de Honra (para ficarmos nas HQs, pois as referências à trilogia cinematográfica d' O Poderoso Chefão são absolutamente constantes). A graphic novel conta a história de Lorenzo Galantuomo, um homem atormentado por guardar um antigo segredo que poderá mudar para sempre o destino da máfia italiana mais famosa do mundo, a Cosa Nostra.

Colocando o cenário dessa forma, pode parecer que teremos uma ação vertiginosa pelas paisagens da Sicília, mas a escrita hábil do autor Wagner Patti consegue costurar o Brasil nesse processo de uma maneira  inteligente e que cria uma interessante conexão com os leitores.

O parceiro de Patti no crime é Edson Leal, que chama atenção pelo layout esperto, uma montagem de páginas de grande sensibilidade e um uso da "câmera" muitas vezes surpreendente. Closes e super closes são feitos para gerar impactos na medida certa. Também chama atenção seu trabalho com as expressões faciais dos personagens. Talvez por se dedicar tanto a esses aspectos, seus backgrounds não sejam os mais desenvolvidos possíveis. Nada que incomode o desenrolar da ação, mas é algo a ser trabalhado em obras futuras.

Homens de Honra tem a dose certa de ódio, poder, vingança, corrupção, traição e morte. E ainda presenteia o leitor com um final  inesperado e impactante. A obra tem um imenso potencial transmidático, ao passar por suas páginas - que têm um intenso ritmo cinematográfico - é quase possível ver movimento nas imagens e ouvir uma trilha de Nino Rota interligando toda a ação.

Com toda essa qualidade, cabe ainda ressaltar o desenvolvimento do projeto, como ele veio a ser o livro que hoje está à disposição nas livrarias. O autor Wagner Patti dedicou-se a colocar o livro de pé. Escreveu o roteiro, pediu opiniões, pesquisou, enfim, trabalhou. Encontrou em Edson Leal alguém disposto a levar a ideia a frente e, com o trabalho pronto, puseram-se a fazer contatos, buscar possibilidades e foram premiados com a publicação pela Panda Books. A lição que eles ensinam é de que quando há qualidade e trabalho, o mercado tem total possibilidade de absorver as produções nacionais. E se as editoras investem, é porque existem leitores.

Leitores que agora podem conhecer, em vermelho pleno, o interior sangrento de uma tradicional famiglia mafiosa.

Livro: Homem de honra
Autores: Wagner Patti e Edson Leal
Formato: 21 x 28cm
Páginas: 128
Preço: 39,90