sexta-feira, junho 01, 2012

Out of the closet and into the world

Cena de Earth 2 #2, com a
confirmação da orientação sexual
do Lanterna Verde
Nesta sexta-feira, 1 de junho, a DC Comics anunciou que, após a reformulação do seu universo ficcional ocorrida há quase um ano, o Lanterna Verde original (personagem criado na década de 1940) é gay. 

Como não poderia deixar de ser, a mídia não-segmentada, não-especializada, pegou fogo. A simples menção das expressões "Lanterna Verde" e "gay" na mesma frase fez quem não conhece o assunto ficar de orelha em pé, afinal, há não muito tempo, um filme desse personagem (veja resenha aqui) com o galã Ryan Reynolds no papel principal estava estampando cartazes nas portas dos cinemas, copos de refrigerantes em lanchonetes fast food e brinquedos em geral. Natural, então, que a massa se ourice com a novidade.

Todo o processo de "saída do armário" de Alan Scott (a identidade secreta desse Lanterna) é uma grande - e não tão bem armada - jogada de marketing. Mas não que isso não possua um lado positivo.

A parte da ação de marketing falha é que o gay da história apenas compartilha do nome do Lanterna Verde, aquele do filme. Mas é um personagem completamente diferente. Que inclusive vive em outra Terra, a "Terra 2" (esse mundo dos gibis às vezes é complexo...). 

Não passa, portanto, de uma grande sacanagem dizer para todos que o "Lanterna Verde" agora é gay, pois induz o público ao erro. Ou seja, todos vão pensar que é o mesmo personagem interpretado por Ryan Reynolds.

Por outro lado, ao fazer um personagem clássico (ainda que revisto, recriado) se colocar como um homem adulto, bem sucedido, poderoso e gay, é algo que representa muito. Demonstra, em primeiro lugar, que é impossível (mesmo que as forças conservadoras queiram) negar a realidade dos direitos dos homossexuais, suas conquistas e sua força. E, muito mais importante do que isso, diz - de maneira direta - para um imenso contingente de jovens espectadores gays que sua orientação sexual é absolutamente normal e parte da vida. Não gosto e nem acredito em entretenimento que prega, que se diz educativo. Não penso que essa é a função do entretenimento (que é, óbvio, entreter). Contudo, negar a realidade ou se manter numa posição de conservadorismo só faz mal ao meio quadrinístico. 

Capa da edição com o casamento do
personagem Estrela Polar
É claro que não é a primeira vez que um personagem gay aparece nos quadrinhos mainstream. A Marvel mesmo acaba de anunciar o casamento do casal formado pelo membro dos X-Men Estrela Polar e seu namorado. Antes disso, a própria DC já possuía a Batwoman como uma mulher gay atuante em seu universo.

Os quadrinhos de super-heróis, nascidos das esperanças e do desespero de meninos perdidos da década de 1930, sempre foram moralizantes, quadrados e bastante caretas. Isso muda, relativamente, nos anos 1960, com o estilo espalhafatoso de Stan Lee e seus desajustados da Marvel: a família desconstruída do Quarteto Fantástico, o adolescente perdido do Homem-Aranha, o monstro desorientado do Hulk e os meninos e meninas que sofriam preconceito por suas diferenças dos X-Men.

Drogas, na capa de
Green Lantern/Green Arrow #85 (1971)
Mas ainda que esses temas estivessem lá, a discussão era muito mais velada do que efetivamente real. Houve um aprofundamento em temáticas mais reais que sempre é lembrado: a entrada da discussão sobre as drogas, justamente na revista do Lanterna Verde, que na época dividia o título com o Arqueiro Verde, fato ocorrido em 1971.

De lá para cá, muitas revistas tocaram, vez ou outra, em algo mais crítico da vida real, em alguma discussão mais profunda. Porém, na sua imensa maioria, foram tentativas isoladas e sem grande impacto. Mas essa recente onda de "outings" revela que criadores e departamentos de marketing das editoras se atentaram para o fato de que para continuar sendo relevantes para o público precisam ter empatia, ou seja, se colocar no lugar do espectador.

E esse espectador de hoje não é mais o mesmo do século passado. O mundo é outro e, mesmo que a fantasia seja a fundação sob a qual os quadrinhos são construídos, sem verossimilhança, narrativa contínua alguma consegue se manter.

Ou seja, ainda que de maneira capenga, colocando personagens secundários (Batwoman e Estrela Polar) ou por meio de subterfúgios (com um Lanterna de uma "Terra Paralela"), o fato é que os heróis estão saindo do armário. E entrando no mundo. Ao fazê-lo, continuam sua caminhada como uma das maiores referências da cultura pop contemporânea. 

domingo, abril 29, 2012

"Os Vingadores": uma declaração de amor nerd


O ano era 1978 e os cartazes nas portas dos cinemas diziam: “Você vai acreditar que um homem pode voar”. Chegava às telas “Superman – O Filme”, um clássico que dá a partida no uso dos super-heróis na moderna indústria do entretenimento.

Essa utilização, esse salto transmidiático, chega ao seu ápice 34 anos depois, com a estreia de “The Avengers – Os Vingadores”. Se antes era possível acreditar que um homem voava, agora se tem a certeza de que os heróis estão entre nós.


“Vingadores” é a culminação de anos de expectativa, criada desde a cena pós-créditos de “Homem de Ferro”, onde o Nick Fury de Samuel L. Jackson fala sobre uma ‘Iniciativa Vingadores’. Ali os fãs já se descontrolaram, esperando o que seria feito. Vieram então “O Incrível Hulk”, “Homem de Ferro 2”, “Thor” e “Capitão América”, formando – de maneira inédita na história cinematográfica – um universo ficcional compartilhado que se consolida plena e absolutamente no filme escrito e dirigido por Joss Whedon.


Whedon é um velho conhecido do mundo
nerd. Responsável pela série “Buffy”, além de “Firefly” e “Serenity”, este nova-iorquino de 47 anos já escreveu uma das revistas dos X-Men e ganhou o Oscar pelo roteiro do primeiro “Toy Story”. E foi a junção de todos esses trabalhos anteriores que o credenciou para prestar a maior homenagem aos fãs (como ele próprio) jamais imaginada.

Ninguém que não fosse um fã verdadeiro, realmente apaixonado pelos super-heróis, conseguiria fazer um filme tão respeitoso às dezenas de anos de histórias em quadrinhos dos Vingadores, mas que é, ao mesmo tempo, interessante e divertido para quem não é fã.

Sem se prender às minúcias que fazem a glória dos fanáticos, Whedon constrói um filme que, acima de tudo, funciona. E o mais interessante é que, para isso, o diretor e roterista bebe da fonte original. Seu filme é, sem medo de parecer exagerado, a melhor transposição de uma narrativa já apresentada nos quadrinhos para o cinema. Assim como na história original de Stan Lee e Jack ‘The King’ Kirby, no filme os heróis se unem para combater Loki, o irmão de Thor. Porém, na versão cinematográfica, o Deus da Trapaça está em conluio com uma raça de conquistadores intergaláticos, o que aumenta significantemente o tamanho de sua ameaça.

Uma das grandes vitórias de “Vingadores” (e são tantas...), é conseguir atualizar uma história de 1963, época em que a Marvel estava surgindo com uma nova visão sobre os super-heróis, mas que ainda apresentava roteiros simplistas, nos quais as motivações eram básicas: machucar o inimigo e fazê-lo sofrer para depois, claro, dominar o mundo. ‘Por quê?’, pode perguntar o espectador mais incauto. Ora, porque sim! Heróis são bons, vilões são maus e eles brigam entre si. É tudo que se precisa saber.

No filme, a narrativa segue mais ou menos essa estrutura. As resoluções de problemas são rápidas, diretas, não há grandes mistérios e nem grandes descobertas. Mas os diálogos são tão bem amarrados e bem-humorados, que conduzem o espectador naturalmente pela trama.

Falando em cinema de maneira mais ampla e comparando com outra produção com super-herói, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” ainda é um filme muito superior. Mas ali, o foco é diferente. Christopher Nolan almeja mais da sua produção, ele quer examinar a essência da alma humana, o quão fundo pode cair um homem e como ele reagirá durante esse processo. Joss Whedon deseja apenas nos dar a diversão honesta e espetacular que recebemos dos clássicos de aventura oitentistas como “Indiana Jones” e “Goonies”.

Outra virtude de “Vingadores” que merece destaque é que todos os heróis têm seu tempo de tela, sua importância. Depois da atuação espetacular dos dois “Homem de Ferro”, era fácil pensar que Robert Downey Jr. roubaria todas as cenas de que participasse. É evidente que ele se destaca, mas não a ponto de ofuscar os demais. Chama atenção especialmente a interação com o Bruce Banner/Hulk de Mark Ruffalo e com o Steve Rogers/Capitão América de Chris Evans.

Ruffalo é o novato nesse processo, pois no filme “O Incrível Hulk”, o personagem título era interpretado por Edward Norton. Sobre isso, ao assistir “Vingadores”, ficam duas certezas: Mark Ruffalo foi um upgrade e o próximo filme de Joss Whedon deveria ser um solo do Hulk. O grande monstro verde tem as cenas mais divertidas, as melhores sacadas do filme. E Mark Rufallo constrói um Bruce Banner denso, a todo o momento seu olhar demonstra que há algo pronto a explodir e esmagar, ainda que disposto a ajudar.

Chris Evans, por sua vez, surpreende. Ator conhecido por comédias adolescentes (e também pelos sofríveis filmes do Quarteto Fantástico) compõe com sobriedade o mais difícil dos personagens do filme, o Capitão América. Entre os heróis Marvel, o ‘bandeiroso’ é o mais DC deles. Isso quer dizer que se trata de um herói reto, ‘certinho’, altruísta e, de certa forma, antiquado. Em um mundo cético e complexo como o atual, interpretar alguém que acredita nas pessoas e que é bom e honesto simplesmente porque pensa que isso é o certo, sem nenhuma outra motivação, pode ser difícil. Evans, porém, consegue encarnar o aspecto inspiracional do Capitão América, o lado deste herói que faz com ele seja a referência, o comandante desses Vingadores e coloca-se quase em igualdade com o grande Downey Jr.

Além de Homem de Ferro, Capitão América e Hulk, os Vingadores contam ainda com Thor – mais uma vez feito de maneira competente por Chris Hensworth –, com o Gavião Arqueiro, interpretado por Jeremy Renner, e com a Viúva Negra da bela Scarlett Johansson. Todos acompanhados pelo Nick Fury de Samuel L. Jackson, sua assistente Maria Hill (trazida à vida pela beldade Cobie Smulders) e, principalmente, pelo Agente Coulson de Clark Gregg.


Coulson é o catalisador do processo, é dele o plot point do segundo ato, que leva ao clímax da parte do final do filme. Mas, acima de tudo, o Agente Coulson, como bem mostra o filme, é um nerd. E assim, ele torna-se metáfora de todos os fãs nerds que acompanham os super-heróis desde o advento desta categoria de personagem, no final dos anos 1930. Se os Vingadores de fato vingam alguém, são os fãs – esse povo que por anos foi marginalizado e tido como apreciador de uma cultura mais ‘baixa’ e ‘menor’, mas que hoje se confirma como o maior gerador de receita da indústria cinematográfica. Algo pop, no melhor sentido do termo. Como bem comprova The Big Bang Theory, ser nerd está na moda. E o Agente Coulson certamente teria muito a conversar com Sheldon Cooper.

Com “Os Vingadores”, os
nerds consolidam seu reinado na contemporaneidade, pois são eles a vanguarda do movimento que eleva os super-heróis à condição mitológica, demonstrada pela relevância desses seres fantásticos no cotidiano do homem comum, como representação do desejo de liberdade das amarras da vida mundana e da busca humana constante por salvadores.

“Os Vingadores” é o cinema de ação, a ‘sessão da tarde’, a alegria e o prazer da experiência audiovisual que transforma todos em crianças. É diversão cristalizada em pouco mais de duas horas de absoluta orgia visual. Para quem não cresceu envolvido com o gênero dos Super-Heróis, é um ótimo filme. Para quem é fã, é uma declaração de amor.




domingo, janeiro 08, 2012

O jogo de emoções dos Novos Titãs


Capa de Games (2011)

Eu leio gibis há mais tempo do que seria saudável. Aliás, se eu leio, é porque leio gibis. Foi por meio deles e por causa deles que aprendi a ler, lá bem atrás, quando tinha apenas três anos. A fascinação que os heróis brilhantes do papel me causavam (e ainda causam) era tamanha que me impelia ferozmente àqueles caderninhos de papel...

Desde aquele começo tenho um personagem favorito, que continua sendo meu favorito até hoje (a ponto de eu trazê-lo marcado no meu corpo), que é o Superman. Mas no meu coração sempre houve e continua havendo um local todo especial para os Novos Titãs.

Aquele grupo de heróis jovens, liderados por um Robin crescido, que havia aprendido tudo com o Batman e ido além... Havia algo de muito especial neles. Os Titãs eram diferentes de qualquer outro agrupamento de heróis. A Liga da Justiça era como um organizado time de funcionários numa empresa. Adultos que tinham uma tarefa a cumprir e a cumpriam muito bem. Os Vingadores, na sempre evoluída Marvel, tinham um certo lance familiar, afinal de contas o Visão (um robô!) era casado com a Feiticeira Escarlate. Mas ainda assim eles eram adultos, comandados fortemente por um soldado ideal, o Capitão América.

Mas os Titãs... ah, os Titãs. Eles eram como os Goonies ou os garotos de Conta Comigo. Eram jovens quase reais. Se o Superman representava o modo correto de fazer as coisas, um pai que ensina pelo exemplo e sempre acerta, os Titãs erravam, se perdiam, se divertiam.  Eram os amigos que todo garoto queria ter. E, melhor de tudo: que todos os leitores efetivamente tinham.


Cena de Games (2011), com Asa Noturna em
primeiro plano
Nas histórias extraordinariamente ilustradas por George Pérez e escritas com rara inspiração por Marv Wolfman era possível sentir as dores do crescimento de um Robin que não queria mais seguir o que seu “pai” morcego dizia. De um Kid Flash disposto a por de lado a vida de herói, seu sonho de criança, para entrar na faculdade e tentar ser normal. Depois, um promissor atleta que perde partes do corpo num acidente e se torna algo diferente, um Cyborg pleno. Além de um menino órfão de pele verde, uma princesa ex-escrava espacial e uma feiticeira filha de um demônio.

Metáforas, metáforas e mais metáforas. Eram as vidas dos leitores que estavam ali, transfiguradas pela fantasia, que de forma alguma minimizava aqueles sentimentos. Era, por outro lado, algo que apenas servia para ressaltar a verossimilhança, tornando a conexão com os leitores ainda mais forte.

As histórias daquela época dos Titãs, nos anos 1980, eram muito envolventes, diferentes de tudo que havia na DC (e até na Marvel, apesar dos X-Men de Claremont e Byrne) da época. Ainda me lembro muito bem do medo que senti do vampiro Irmão Sangue e seus acólitos; da traição doída que Logan, conhecido como Mutano, sofreu da menina chamada Terra, que enganou os Titãs e os entregou ao pior inimigo deles, o Exterminador, no Contrato de Judas. Ou do terror da possessão demoníaca de Trigon, o pai de Ravena.

Havia todo o esquema heróico, mas também vários outros elementos, que enriqueciam ainda mais a narrativa. Havia uma tensão sexual no ar. Wally West, o Kid Flash, era apaixonado pela problemática Ravena. Robin (que logo se tornou Asa Noturna) era namorado de Estelar e não passavam duas edições em que não houvesse pelo menos um quadrinho dos dois saindo da cama juntos. Mas sem forçar nada. Era algo simples, natural como a vida aqui fora.

Mas, além disso, as relações entre os membros do grupo eram muito bem elaboradas. Mesmo sendo um líder nato, um futuro Batman, Dick Grayson era sempre questionado, especialmente por Donna Troy, a Moça-Maravilha, com toda sua sabedoria clássica.

Os Novos Titãs marcaram época e deixaram saudade.  Aquela fase maravilhosa foi se perdendo ao longo da terrível (para os quadrinhos de super-heróis) década de 1990. Somente nos anos 2000, quando um leitor daquelas histórias se tornou ele próprio escritor, Geoff Johns, que uma poeira daquele tempo se espalhou levemente, com os mesmos Cyborg, Estelar e Ravena  acompanhados agora de novos Robin, Moça-Maravilha e Kid Flash, além de Superboy. Mas não era a mesma coisa. O mundo mudou, em vários sentidos ficou mais chato e careta, e sexo e possessão demoníaca não aparecem mais tão livremente num gibi como antes. A “pegada” se perdeu.

Games
Porém, uma boa surpresa surgiu em 2011. Uma história perdida, uma última aventura dos Titãs de Wolfman e Pérez: a lendária graphic novel “Games”.

Desde mais ou menos 1988 que os fãs ouviam falar de “Games”. Vez ou outra a saudosa revista especializada “Wizard” trazia alguma arte. Depois, a internet foi povoada de teorias conspiratórias sobre os motivos que impediam a publicação da revista. Diziam as lendas que “Games” era muito pesada, sombria, mexia demais com os personagens e causaria polêmica caso fosse publicada.

Mas a verdade era mais simples. Agora que foi publicada, Marv Wolfman conta na introdução que sofreu um bloqueio criativo logo no meio do processo, que foi retomado anos mais tarde, mas aí decisões editoriais acabaram travando o andamento, que somente em 2011 foi retomado. E ao ver a obra pronta só é possível dizer que valeu a pena esperar.

Ravena e Cyborg conversam em Games (2011)

Games” foi desenhada por Pérez em painéis maiores, o que deixou a arte detalhada dele ainda mais precisa e bela. Para esta edição, o desenhista e Wolfman repensaram as cenas, atualizaram os conceitos e, livres das travas da continuidade, puderam avançar e criar uma narrativa densa, de forte carga emocional.

Na história, um vilão novo e desconhecido ameaça a cidade de Nova Iorque, e também os entes queridos dos Titãs, obrigando-os a participar de um jogo perigoso e mortal, em que estão na mesa incontáveis vidas.
Diferente do que habitualmente vemos em histórias de super-heróis, as consequências em “Games” são graves, intensas. Há mortes e outras perdas para os personagens, que se vêem colocados em situações nunca vistas antes.

Não há como saber se a publicação original, lá em 1988, teria o mesmo impacto, visto que havia sido pensada para se encaixar na continuidade da revista mensal. O que se vê na publicação atual é algo que muda o status quo do grupo de jovens heróis de maneira decisiva.

Games” é o canto do cisne da inspirada dupla Wolfman e Pérez nos Titãs. É uma homenagem perfeita ao trabalho dos dois e um presente aos fãs, que por tanto tempo acompanharam as aventuras daquela turma de garotos vivendo suas vidas de maneira tão parecida com as nossas, ao mesmo tempo em que salvam o mundo de terríveis ameaças.

Ler “Games” é como encontrar um álbum de fotografias perdido de alguma viagem da época de colégio, relembrando o que passou e ao mesmo tempo conhecendo algo novo. Uma obra de qualidade inquestionável e que ganhou um acabamento digno, com cores especiais e capa dura, além de extras como a proposta inicial da história para os editores.

Ali temos um dos aspectos mais sensíveis da magia das HQs atuando plenamente: o tempo congelado, que mesmo 20 anos depois, conserva os personagens naquele estado clássico e que consegue, com isso, despertando a memória dos leitores, transportando-os pelo tempo no folhear das páginas e resgatando sentimentos de outrora.

Mas acima de toda a carga sentimental, “Games” é um senhor trabalho em forma de quadrinhos. Uma lição para os criadores de hoje: estrutura narrativa, construção de personagens, arte espetacular, tudo. Completados pela cereja do bolo, a lembrança de tempos em que tudo que um garoto leitor de gibis precisava era de amigos como ele. Como aqueles Novos Titãs.