quinta-feira, novembro 13, 2003

Burning season

Um clima praiano permeia a cidade. O verão chega trazendo pouca roupa e muita gente para as ruas. A brisa é leve, as conversas alegres. Foi só o calor bater para que todos saíssem de suas tocas e buscassem o contato com o outro. Cerveja gelada, botequim de esquina. Nesta, mais do que nas outras estações, os amores nascem e morrem freneticamente, como se fossem obrigados a seguirem o ritmo do resto da vida.
O dia foi o mais quente do ano. A lua brilha no alto, pronta para virar a cabeça dos menos afortunados. As crianças têm seus sonos invadidos pelo incômodo dos lençóis molhados do suor de sonhos forrados de brincadeiras intensas.
Isto é São Paulo, 12 de novembro e 34,5 graus Celsius.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Do final. O da semana e de todo resto

Viagem, festa, amigos. Alegria incontida. E alguma tristeza escondida.
Foi um final de semana especial, sem dúvida alguma. Ribeirão Preto é longe demais. E quente como o inferno. Porém, o calor foi devidamente amenizado por muita (mas MUITA mesmo) cerveja gelada.

Era uma dessas situações-chave que a realidade, vez por outra, nos traz. Formatura. De uma das pessoas de que eu mais gosto nessa vida. Um irmão, amigo pra vida toda. Além dele, toda a turma estava presente. Pessoas que escolheram os caminhos mais diversos entre si (engenheiros, médicos, administradores, jornalistas...), mas que ainda mantém em comum aquela amizade que já transcendeu o simples grupo de amigos e os transformou numa família.

Ali pude perceber a minha sorte. Existem pessoas que não têm amigos. Outros têm um ou outro apenas. Eu não. Tenho um grupo. Um belo grupo. Obviamente sou mais próximo de uns do que de outros, mas com qualquer um deles me sinto em casa. Me senti em casa em Ribeirão.

Nesta viagem pude perceber também que se já sou retardado assim, sem eles teria me perdido completamente. Mais do que uma simples companhia, meus amigos me deram um norte, foram um farol na escuridão da minha ignorância e inaptidão social. Com seus padrões altos em todos os sentidos, eles acabaram me forçando a me dedicar mais em tudo, para continuar sendo um deles. Tenho muito orgulho em fazer parte de um grupo tão especial.

E eu pude dizer isso a algumas das pessoas ali reunidas. Agradecimentos que eu havia deixado passar por muito tempo. Dizer da alegria que é poder partilhar da minha vida com todos eles. Ninguém (ou muito poucos) imaginam que no fundo eu sou esse cara triste, fechado e depressivo. Pq ao lado deles é impossível ser assim. Eu sempre me animo. O bem que me fazem é incrível.

Foi muito bom também encontrar pessoas do passado, de uma época muito mais simples, pura e feliz. E ver que elas não me esqueceram, assim como eu nunca as esqueci. Dizer a elas como foi importante conviver com elas naqueles tempos, de como eles fazem parte da história da minha vida. E ouvir em troca que eu também faço parte da história da vida delas.

Porém, no meio de tanta alegria, a tristeza também apareceu. Mesmo com tantas pessoas queridas, em alguns momentos tudo pareceu perdido. A solidão bateu mais forte do que nunca. Aquela idéia recorrente de estar sozinho num salão cheio de gente se concretizou de forma plena. Eu precisava de alguém para compartilhar tudo aquilo. Mas essa pessoa não existe. E isso dói.

Parece que todos os finais de ano trazem alguma forma de decisão. Em 2003, pelo jeito, vai ser a de me livrar completamente de certos paradigmas pelo quais me coloquei como indivíduo. Se houve evolução, ela ainda foi pequena. Há muitos demônios para serem destruídos aqui dentro. O bom é saber, ter a certeza, de que não terei que passar por isso sozinho.