quinta-feira, julho 17, 2008

Da educação capitalista

O governo e as empresas comemoram fortemente o advento da classe C como grande consumidora do Brasil atual. Para quem vende, realmente está tudo ótimo. Mas quem faz a “gestão” (entre aspas, pois isto, de fato, nunca aconteceu) do País deveria abrir os olhos para um ponto extremamente complexo, a questão educacional.

Mas o que a educação tem a ver com o consumo? Tudo! Há que se ter conhecimento e, principalmente, discernimento até mesmo para gastar.

Poucas cenas são mais cruéis: tarde de domingo na cidade de São Paulo. Uma loja do McDonalds num shopping de bairro popular. Famílias inteiras se acotovelam para ouvir um “Seu pedido, senhor?” de mocinhas mecânicas e pouco sorridentes. Crianças pulam e se penduram no balcão tentando enxergar o mundo que lhes parece fantástico se apresentando do outro lado.

Invariavelmente, famílias com filhos (e na maioria, mais de um) pedem o famigerado “McLanche Feliz”. Valor? Cerca de 10 reais. Comem as crianças (no mínimo duas), o pai a mãe e sempre também acompanha um primo ou um vizinho. A conta não sai por menos de 50 reais.

Para um grupo familiar que ganhe entre 700 e 900 reais, pagando aluguel, comida, água, luz e tudo mais, esse dinheiro faz diferença. E muita diferença. Mas como equilibrar – e agüentar – os desejos de crianças que “precisam” ter o brinquedo mais recente lançado pelo restaurante do palhaço e dos arcos dourados?

Aqui entra a questão da educação. A esse povo todo foi dado dinheiro, acesso ao crédito. Mas ninguém os ensinou a pensar, eles continuam sem a menor condição de fazer uma análise crítica do seu entorno, do mundo em que vivem.

Que não pareça ser esta uma campanha contra o McDonalds. Não é. Valem também os comerciais de brinquedos que passam no intervalo dos programas infantis. O problema é que o Mac vincula essa venda à “comida”.

A campanha é, sim, contra a política educacional emburrecedora deste e dos governos passados. Até parece que deixar que sejam abertas milhares de faculdades ajuda a formar uma população realmente pronta para lidar com os diferentes desafios da vida capitalista moderna.

Não que seja necessário ler Marx, Engels, Durkheim, Maquiavel ou qualquer outro para conseguir freqüentar um restaurante fast-food. Mas um mínimo de conhecimento gera questionamentos e evita que as pessoas sejam conduzidas como gado pela vida.

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