segunda-feira, agosto 25, 2008


Hoje tem palhaçada? Tem, sim senhor!

Na semana passada, São Paulo viu acontecer a III Palhaçaria Paulistana. Trata-se de um evento organizado pela Cooperativa Paulista de Circo e pela Secretaria Municipal de Cultura.

Palhaços, mágicos, malabaristas e demais artistas circenses apresentaram-se gratuitamente, resgatando a magia do circo tradicional – e não uma daquelas superproduções estrangeiras. Nada contra elas, mas uma não pode substituir a outra. Há lugar para todos.

Mas mais importante do que o evento em si, foi o local de sua realização: o Vale do Anhangabaú.

Cravado no centro da metrópole paulistana, o Vale é ponto de passagem entre pessoas que vão e vêm de locais como a Rua Santa Ifigênia, o Largo São Francisco, a Praça da Sé, o Terminal da Praça das Bandeiras, a Rua Boa Vista, o Viaduto do Chá, entre outros.

Lá vivem – isso mesmo, vivem – centenas de pessoas que dormem nos bancos, banham-se nas fontes e consomem drogas embaixo de marquises. Um retrato fiel da realidade de muitos paulistanos pronto para quem quiser ver, especialmente em tempos eleitorais.

Mas não é tão ruim quanto pode parecer assim, à primeira vista. Há muito policiamento naquela região, tanto da Polícia Militar, quanto da Guarda Civil Metropolitana. Assaltos que antes eram freqüentes por ali, hoje são muito mais raros. Já é possível, aos sábados e domingos, ver casais namorando nos bancos e jovens skatistas aproveitando as áreas planas e o concreto utilizado ali.

Com a III Palhaçaria Paulistana, um circo foi, literalmente, armado ali. E com espetáculos gratuitos, toda aquela gente que circula pelo Anhangabaú pôde tomar contato com pulsante cultura que vibrava no interior da lona.

Nas apresentações, todas elas lotadas, era possível ver o quão carente a população é de opções culturais. Quantos ali já entraram num teatro? E num cinema? Mesmo o próprio circo parecia ser algo inédito ou uma distante lembrança da infância.

Os olhares brilhosos das crianças, as quase-lágrimas querendo rolar pelos rostos dos mais velhos. Tudo aquilo era recheado de uma emoção tremenda, colocada ali em estado bruto.

Não acho que o Governo (seja ele qual for) tem o dever de prover tudo ao cidadão. Pelo contrário, sou até bastante liberal e quero mais ver Brasília reduzida a meia-dúzia de salas num prédio de três andares.

Porém, no estágio evolutivo em que o Brasil se encontra, oferecer alguma coisa que seja, é sim obrigação do Estado.

Com o circo da Palhaçaria, a Prefeitura de São Paulo acertou em cheio. Deu aos porteiros, garçons, faxineiras, arrumadeiras, jardineiros e trabalhadores em geral do centro da cidade a oportunidade de se sentirem participantes, cidadãos plenos. Justo eles, que são as engrenagens fundamentais para que a cidade que não pára nunca realmente não fique parada.

Tudo isso com o mais singelo sorriso de um palhaço.

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