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domingo, abril 29, 2012

"Os Vingadores": uma declaração de amor nerd


O ano era 1978 e os cartazes nas portas dos cinemas diziam: “Você vai acreditar que um homem pode voar”. Chegava às telas “Superman – O Filme”, um clássico que dá a partida no uso dos super-heróis na moderna indústria do entretenimento.

Essa utilização, esse salto transmidiático, chega ao seu ápice 34 anos depois, com a estreia de “The Avengers – Os Vingadores”. Se antes era possível acreditar que um homem voava, agora se tem a certeza de que os heróis estão entre nós.


“Vingadores” é a culminação de anos de expectativa, criada desde a cena pós-créditos de “Homem de Ferro”, onde o Nick Fury de Samuel L. Jackson fala sobre uma ‘Iniciativa Vingadores’. Ali os fãs já se descontrolaram, esperando o que seria feito. Vieram então “O Incrível Hulk”, “Homem de Ferro 2”, “Thor” e “Capitão América”, formando – de maneira inédita na história cinematográfica – um universo ficcional compartilhado que se consolida plena e absolutamente no filme escrito e dirigido por Joss Whedon.


Whedon é um velho conhecido do mundo
nerd. Responsável pela série “Buffy”, além de “Firefly” e “Serenity”, este nova-iorquino de 47 anos já escreveu uma das revistas dos X-Men e ganhou o Oscar pelo roteiro do primeiro “Toy Story”. E foi a junção de todos esses trabalhos anteriores que o credenciou para prestar a maior homenagem aos fãs (como ele próprio) jamais imaginada.

Ninguém que não fosse um fã verdadeiro, realmente apaixonado pelos super-heróis, conseguiria fazer um filme tão respeitoso às dezenas de anos de histórias em quadrinhos dos Vingadores, mas que é, ao mesmo tempo, interessante e divertido para quem não é fã.

Sem se prender às minúcias que fazem a glória dos fanáticos, Whedon constrói um filme que, acima de tudo, funciona. E o mais interessante é que, para isso, o diretor e roterista bebe da fonte original. Seu filme é, sem medo de parecer exagerado, a melhor transposição de uma narrativa já apresentada nos quadrinhos para o cinema. Assim como na história original de Stan Lee e Jack ‘The King’ Kirby, no filme os heróis se unem para combater Loki, o irmão de Thor. Porém, na versão cinematográfica, o Deus da Trapaça está em conluio com uma raça de conquistadores intergaláticos, o que aumenta significantemente o tamanho de sua ameaça.

Uma das grandes vitórias de “Vingadores” (e são tantas...), é conseguir atualizar uma história de 1963, época em que a Marvel estava surgindo com uma nova visão sobre os super-heróis, mas que ainda apresentava roteiros simplistas, nos quais as motivações eram básicas: machucar o inimigo e fazê-lo sofrer para depois, claro, dominar o mundo. ‘Por quê?’, pode perguntar o espectador mais incauto. Ora, porque sim! Heróis são bons, vilões são maus e eles brigam entre si. É tudo que se precisa saber.

No filme, a narrativa segue mais ou menos essa estrutura. As resoluções de problemas são rápidas, diretas, não há grandes mistérios e nem grandes descobertas. Mas os diálogos são tão bem amarrados e bem-humorados, que conduzem o espectador naturalmente pela trama.

Falando em cinema de maneira mais ampla e comparando com outra produção com super-herói, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” ainda é um filme muito superior. Mas ali, o foco é diferente. Christopher Nolan almeja mais da sua produção, ele quer examinar a essência da alma humana, o quão fundo pode cair um homem e como ele reagirá durante esse processo. Joss Whedon deseja apenas nos dar a diversão honesta e espetacular que recebemos dos clássicos de aventura oitentistas como “Indiana Jones” e “Goonies”.

Outra virtude de “Vingadores” que merece destaque é que todos os heróis têm seu tempo de tela, sua importância. Depois da atuação espetacular dos dois “Homem de Ferro”, era fácil pensar que Robert Downey Jr. roubaria todas as cenas de que participasse. É evidente que ele se destaca, mas não a ponto de ofuscar os demais. Chama atenção especialmente a interação com o Bruce Banner/Hulk de Mark Ruffalo e com o Steve Rogers/Capitão América de Chris Evans.

Ruffalo é o novato nesse processo, pois no filme “O Incrível Hulk”, o personagem título era interpretado por Edward Norton. Sobre isso, ao assistir “Vingadores”, ficam duas certezas: Mark Ruffalo foi um upgrade e o próximo filme de Joss Whedon deveria ser um solo do Hulk. O grande monstro verde tem as cenas mais divertidas, as melhores sacadas do filme. E Mark Rufallo constrói um Bruce Banner denso, a todo o momento seu olhar demonstra que há algo pronto a explodir e esmagar, ainda que disposto a ajudar.

Chris Evans, por sua vez, surpreende. Ator conhecido por comédias adolescentes (e também pelos sofríveis filmes do Quarteto Fantástico) compõe com sobriedade o mais difícil dos personagens do filme, o Capitão América. Entre os heróis Marvel, o ‘bandeiroso’ é o mais DC deles. Isso quer dizer que se trata de um herói reto, ‘certinho’, altruísta e, de certa forma, antiquado. Em um mundo cético e complexo como o atual, interpretar alguém que acredita nas pessoas e que é bom e honesto simplesmente porque pensa que isso é o certo, sem nenhuma outra motivação, pode ser difícil. Evans, porém, consegue encarnar o aspecto inspiracional do Capitão América, o lado deste herói que faz com ele seja a referência, o comandante desses Vingadores e coloca-se quase em igualdade com o grande Downey Jr.

Além de Homem de Ferro, Capitão América e Hulk, os Vingadores contam ainda com Thor – mais uma vez feito de maneira competente por Chris Hensworth –, com o Gavião Arqueiro, interpretado por Jeremy Renner, e com a Viúva Negra da bela Scarlett Johansson. Todos acompanhados pelo Nick Fury de Samuel L. Jackson, sua assistente Maria Hill (trazida à vida pela beldade Cobie Smulders) e, principalmente, pelo Agente Coulson de Clark Gregg.


Coulson é o catalisador do processo, é dele o plot point do segundo ato, que leva ao clímax da parte do final do filme. Mas, acima de tudo, o Agente Coulson, como bem mostra o filme, é um nerd. E assim, ele torna-se metáfora de todos os fãs nerds que acompanham os super-heróis desde o advento desta categoria de personagem, no final dos anos 1930. Se os Vingadores de fato vingam alguém, são os fãs – esse povo que por anos foi marginalizado e tido como apreciador de uma cultura mais ‘baixa’ e ‘menor’, mas que hoje se confirma como o maior gerador de receita da indústria cinematográfica. Algo pop, no melhor sentido do termo. Como bem comprova The Big Bang Theory, ser nerd está na moda. E o Agente Coulson certamente teria muito a conversar com Sheldon Cooper.

Com “Os Vingadores”, os
nerds consolidam seu reinado na contemporaneidade, pois são eles a vanguarda do movimento que eleva os super-heróis à condição mitológica, demonstrada pela relevância desses seres fantásticos no cotidiano do homem comum, como representação do desejo de liberdade das amarras da vida mundana e da busca humana constante por salvadores.

“Os Vingadores” é o cinema de ação, a ‘sessão da tarde’, a alegria e o prazer da experiência audiovisual que transforma todos em crianças. É diversão cristalizada em pouco mais de duas horas de absoluta orgia visual. Para quem não cresceu envolvido com o gênero dos Super-Heróis, é um ótimo filme. Para quem é fã, é uma declaração de amor.




quarta-feira, novembro 16, 2011

Homens de Honra: a máfia ataca os quadrinhos


Que as HQs são meios capazes de contar qualquer tipo de história já não é novidade alguma. Mas seria possível alcançar o nível de envolvimento e profundidade que alguns gêneros - como o policial, por exemplo, pedem? Homens de Honra, lançamento da Panda Books (em sua primeira empreitada no mundo dos Quadrinhos) demonstra que sim e com a qualidade mantida em alto nível. 

É interessante ver como o mercado nacional de HQs está cada vez se abrindo mais e permitindo a publicação de uma obra como essa. Os autores brasileiros dificilmente se aventuram pelos thrillers. Parece haver uma preferência geral por dramas, psicodelias sensíveis e comédias. Vez ou outra alguma aventura e os super-heróis de sempre produzidos pelos brazucas, mas publicados pelas grandes editoras lá de fora.

A pergunta do primeiro parágrafo deste texto é uma provocação barata. É claro que uma boa narrativa policial pode ser escrita nos quadrinhos. Ed Brubaker, acompanhado de Greg Rucka, demonstrou isso na excepcional série Gotham Central, em que fazia os policiais da cidade quiróptera se transformarem em estrelas dignas de um CSI ou de um Law & Order, às vezes até melhor do que nos acostumamos a ver na TV. Ele ainda fez os ótimos trabalhos autorais no gênero, com Criminal e Incognito.

O já transmidiático Sin City nada mais é do que uma grande - e excelente - história policial, com todas as nuances e clichês que o gênero pede. A arte de Frank Miller dá o ritmo certo para o leitor acompanhar as desventuras de desajustados na mais desajustada ainda Basin City.

É justamente Sin City a inspiração maior para este Homens de Honra (para ficarmos nas HQs, pois as referências à trilogia cinematográfica d' O Poderoso Chefão são absolutamente constantes). A graphic novel conta a história de Lorenzo Galantuomo, um homem atormentado por guardar um antigo segredo que poderá mudar para sempre o destino da máfia italiana mais famosa do mundo, a Cosa Nostra.

Colocando o cenário dessa forma, pode parecer que teremos uma ação vertiginosa pelas paisagens da Sicília, mas a escrita hábil do autor Wagner Patti consegue costurar o Brasil nesse processo de uma maneira  inteligente e que cria uma interessante conexão com os leitores.

O parceiro de Patti no crime é Edson Leal, que chama atenção pelo layout esperto, uma montagem de páginas de grande sensibilidade e um uso da "câmera" muitas vezes surpreendente. Closes e super closes são feitos para gerar impactos na medida certa. Também chama atenção seu trabalho com as expressões faciais dos personagens. Talvez por se dedicar tanto a esses aspectos, seus backgrounds não sejam os mais desenvolvidos possíveis. Nada que incomode o desenrolar da ação, mas é algo a ser trabalhado em obras futuras.

Homens de Honra tem a dose certa de ódio, poder, vingança, corrupção, traição e morte. E ainda presenteia o leitor com um final  inesperado e impactante. A obra tem um imenso potencial transmidático, ao passar por suas páginas - que têm um intenso ritmo cinematográfico - é quase possível ver movimento nas imagens e ouvir uma trilha de Nino Rota interligando toda a ação.

Com toda essa qualidade, cabe ainda ressaltar o desenvolvimento do projeto, como ele veio a ser o livro que hoje está à disposição nas livrarias. O autor Wagner Patti dedicou-se a colocar o livro de pé. Escreveu o roteiro, pediu opiniões, pesquisou, enfim, trabalhou. Encontrou em Edson Leal alguém disposto a levar a ideia a frente e, com o trabalho pronto, puseram-se a fazer contatos, buscar possibilidades e foram premiados com a publicação pela Panda Books. A lição que eles ensinam é de que quando há qualidade e trabalho, o mercado tem total possibilidade de absorver as produções nacionais. E se as editoras investem, é porque existem leitores.

Leitores que agora podem conhecer, em vermelho pleno, o interior sangrento de uma tradicional famiglia mafiosa.

Livro: Homem de honra
Autores: Wagner Patti e Edson Leal
Formato: 21 x 28cm
Páginas: 128
Preço: 39,90

segunda-feira, setembro 05, 2011

Fazendo o dia ficar mais claro

Lanterna Verde, primeira iniciativa da Warner para combater o sucesso do universo integrado Marvel nos cinemas, foi alvejado cruelmente pela crítica – tanto a da massa, quanto a dos fãs. Mas será que o filme tem tantos problemas assim?

Em primeiro lugar é preciso contextualizar o personagem. O Lanterna Verde como um policial intergalático nasce na década de 1960. Ele é um dos primeiros super-heróis a iniciar a chamada “Era de Prata” dos quadrinhos, ao lado do veloz Flash. Naquele momento, como bem conta Grant Morrison em Supergods (2011), o piloto de teste Hal Jordan, identidade secreta do herói, representa o ideal norte-americano da corrida espacial. É o piloto destemido que recebe dos céus a missão de ser o protetor do modo de vida tido como correto, justo e ordeiro. Policial pleno daquela realidade. Qualquer semelhança com o posicionamento dos EUA na Guerra Fria não é mera coincidência.

O que então faria um personagem como aquele se tornar relevante para a audiência de hoje, que nasceu num mundo em que o Muro de Berlim não passa de uma alegoria num livro de História? A resposta estava mais perto do que poderia se imaginar: dentro do coração do homem contemporâneo, refém de sua condição fragilizada e amedrontada face ao novo mundo de novidades constantes e igualdade plena dos sexos, continentes, mercados e tudo mais. Um mundo pós 11 de setembro, no qual o medo é presença constante.

Pelas hábeis mãos do hoje Chief Creative Officer (algo como “chefe criativo”) do Universo DC, o então “apenas” escritor Geoff Johns, os Lanternas Verdes se configuraram como a representação da Força de Vontade, acompanhados agora por uma miríade de cores, cada uma indicando um sentimento ou condição humana. No filme, temos apenas o encontro com o Amarelo do Medo e o próprio Verde. Mas os quadrinhos nos apresentam ainda o Vermelho da Ira, o Azul da Esperança, o Índigo da Compaixão, o Laranja da Ganância, o Violeta do Amor, além do Negro da Morte e o Branco da Vida.

Se todas essas cores serão vistas nos próximos filmes, só tempo dirá. Fato é que Hal Jordan passa a ser o homem destemido, que consegue moldar a realidade a partir de sua vontade. Desejo interno de qualquer um.
As críticas mais pesadas acusaram o filme de ter vilões fracos, a saber: o telepata Hector Hammond e a entidade do medo, Parallax. Mas haveria algo maior para ser enfrentado do que o medo em si? Talvez a representação imagética de Parallax não tenha sido a melhor possível. Ele, basicamente, é uma nuvem com rosto e tentáculos. Nos quadrinhos é um ser de aspecto reptiliano. Talvez funcionasse melhor na tela do que a tal nuvem, mas o que estava em jogo era o conceito, o ideal de superar o medo. Ou, como o filme bem coloca, de aceitar que ele existe para então ser capaz de suplantá-lo.

Em termos cinematográficos, os efeitos oscilam demais. A arte conceitual do planeta-sede da Tropa dos Lanternas Verdes, Oa, é magnífica. E funciona ainda melhor em 3D. Os personagens criados por computador para fazer parte da Tropa também são bons. Mas algumas cenas de batalha espacial deixaram a desejar.

O maior problema, no entanto, não é esse. A questão é que o roteiro de Lanterna Verde fica no meio do caminho entre ser uma ópera galáctica, nos moldes de Star Wars e uma fita de super-herói mais tradicional, como o recente (e excelente) X-Men First Class.

Entre tentar aproximar o público com cenas passadas na Terra ao invés de investir mais em aprofundar os conflitos internos de Hal Jordan, um homem atormentado pela lembrança da morte de seu pai e pela vontade de realizar aquilo que ele deixou por fazer, o filme perde a oportunidade de gerar ainda mais empatia junto à audiência.

Mas isso não faz com que seja um filme ruim. Longe disso. É divertido e interessante, com atuações bastante equilibradas. Ryan Reynolds, que faz o papel-título era um dos grandes temores da comunidade de fãs. Conhecido por papéis “engraçadinhos”, na pele de Hal consegue transparecer a impetuosidade característica do personagem, conferindo ainda uma certa graça a todo o processo. Evidente que não se trata de um ator da categoria de Robert Downey Jr e seu Homem de Ferro. Mas é superior ao Thor de Chris Hemsworth e ao Capitão América de Chris Evans. Já a mocinha vivida por Blake Lively, adorada pelas adolescentes por sua Serena de Gossip Girl, convence como a forte Carol Ferris, dublê de piloto e executiva.

Mas o grande destaque do elenco vai para os antagonistas.

O Sinestro de Mark Strong é duro, viceral, um representante da ordem pronto para buscar o domínio completo. A todo momento já se vê o futuro líder da tropa que leva seu nome e que espalhará o medo pela galáxia. Já o Hector Hammond de Peter Sasgaard tem um olhar triste, sofrido. Um outcast completo, que busca na ciência a chance de sobressair de alguma maneira. Se a medida de um herói é dada pelo tamanho de seus opositores, o Lanterna Verde já consegue se posicionar bem. Mas, pelo que indica o filme, ficará ainda melhor quando tiver Sinestro como seu principal opositor.

Lanterna Verde é melhor do que a maioria das críticas pintou. Para os fãs, não há muito que reclamar, pois a fidelidade ao material original é enorme. Mas se a DC (e a Warner, sua proprietária) querem criar um universo capaz de rivalizar com a Marvel e seus Vingadores vindouros, é preciso trabalhar um pouco melhor.

Independente disso, a grande virtude do filme é ser puramente divertido. Sem a densidade de Batman - The Dark Knight. Lanterna Verde é aquele filme que faz as crianças quererem colocar anéis nos dedos e enfrentar o escuro de seus quartos. Num mundo como o nosso, isso já faz o dia brilhar muito mais claro.


sexta-feira, agosto 05, 2011

A influência dos quadrinhos em outros meios


Um dos pontos da minha pesquisa no TIDD é a relação entre os quadrinhos e outras mídias, de que forma essas situações se estabelecem.

Que as HQs possuem uma grande força imagética e narrativa, isso é bastante óbvio. O que surpreende é o raio de ação dessas produções, que chega até a influenciar a TV brasileira.

Um incrível exemplo de influência e, por que não, salto transmidiático: de Watchmen nas HQs, para o cinema e para a telinha, em O Astro:

Melhor chamarmos de influência, inspiração. E não de plágio, palavra forte demais para os tempos de compartilhamento e creative commons em que vivemos.

Confira e tire suas conclusões:






Essa é para pensar bastante.

sexta-feira, junho 03, 2011

Homem-Aranha em vários tempos

A pesquisa relacionando Quadrinhos e seus saltos para outras mídias nunca pareceu tão boa. Depois do excelente Spider-Man - Shattered Dimensions aproxima-se o lançamento de Spider-Man: Edge of Time.

Homem-Aranha 2099
Pelas imagens do trailer divulgado na E3, a aventura promete. O roteiro do clássico autor de HQs Peter David, conhecido por seus trabalhos em Hulk, Supergirl e, o motivo de ser convocado para esse game, Spider-Man 2099.

A Beemox, que produz o game com a Activision, avisa que está criando um processo de interligação entre as diferentes linhas temporais nas quais o game se passa, no qual o que acontece em uma "fase" do jogo influenciará as demais, alterando a narrativa do jogo.

É interessante verificar o chamado para roteiristas de Quadrinhos para os games, como também acontece com Paul Dini com Batman. Ele é o autor da narrativa de Arkham City. Jogo que, aliás, terá a novidade de ter a Mulher-Gato como personagem controlável.

Mas isso é história para outro post... Por aqui, segue o trailer de Spider-Man: Edge of Time.

quarta-feira, maio 04, 2011

Um novo tempo

A seguir, apresento uma resenha do filme "Thor", feita sob novas premissas. Diferente do que fiz ao longo desses vários anos de existência deste blog, essa resenha contem elementos diferentes, mais analíticos e menos opinativos, do que muitas vezes fiz com outros filmes, revistas em quadrinhos, CDs, entre outras produções artísticas.

Faz parte do processo da minha pesquisa acadêmica, em andamento no programa de pós-graduação do TIDD da PUC-SP, na qual estudo as relações entre as Histórias em Quadrinhos de Super-Heróis e seu potencial como base de franquias transmídias.

Em breve (se tudo continuar no ritmo correto), devo criar um site específico para as questões acadêmicas e este e outros trabalhos migrarão para lá. Enquanto isso, continuarei utilizando este espaço.

Segue então minha visão sobre a chegada do Deus do Trovão à telona. Agradecimentos prévios ao velho amigo M. Cury por vários insights.

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Um deus de carne e osso

Demonstrando todo seu poderio criativo, a Marvel Studios apresenta ao cinema – e por consequência ao público geral, fora da comunidade de fãs – o personagem que, teoricamente, seria o mais difícil de fazer essa transição transmidiática: Thor, o Deus do Trovão.

Quais os motivos dessa dificuldade? Bem, Thor é um personagem ou, melhor dizendo, um mito (daqueles antigos, clássicos) nórdico. Que é retomado na década de 60 pelo mago dos quadrinhos Stan Lee para ser o Superman da Marvel. Mas o velho e bom Lee não é bobo e nem nada e o faz loiro, cabelos compridos ao vento, com um estilo de fala que soa estranha aos ouvidos da maioria. Ou seja, Thor não é nada mais nada menos do que um hippie (Estamos na década de 60, não se esqueça).

Superman hippie. Nada menos do que genial. Porque Superman pode ser qualquer coisa, mas nunca vai ser hippie. Nem liberal, em qualquer sentido. Mas enfim, voltemos ao tema nórdico. O ponto crucial na transposição de Thor ao cinema está no fato de que sim, ele é um deus. Como explicar isso para o pessoal puritano dos States? Ainda mais agora que a Marvel é da Disney... xiii... vai complicar.

Mas o filme dirigido por Kenneth Branagh resolve isso rapidamente, colocando Thor, Odin, Loki e todos mais como seres de outra dimensão, adorados pelo povo primitivo do passado dos países nórdicos como deuses. Dito isso, caminho aberto para seguir em frente e contar uma ótima história.

Atuações ótimas

"Thor" teve um budget que pode ser considerado médio, US$ 150 milhões. Comparando, o primeiro "Homem de Ferro" – que abriu as portas das telas grandes para a Marvel – custou R$ 140 milhões. Já o segundo "Homem de Ferro" teve orçamento de US$ 200 milhões. Qual o impacto desses números? Bem, em "Thor" o resultado está em efeitos especiais apenas razoáveis.

Fica bem evidente que o dinheiro foi focado nos atores. Anthony Hopkins faz Odin, deus supremo da mitológica Asgard. Natalie Portman faz a mocinha da fita, a Dra. Jane Foster (aliás, cabe aqui uma ressalva interessante. Nos gibis, Jane Foster era uma prosaica enfermeira. Aqui, foi alçada a Doutora em Astrofísica. Sinal dos tempos). O ótimo ator inglês Tom Hiddleston surpreende como Loki e sobra espaço até para a bela veterana Rene Russo, como a rainha e esposa de Odin, Frigga. O interessante é que o papel-título ficou com o jovem e relativamente desconhecido australiano Chris Hemsworth, que oferece a medida certa ao papel.

Todos os atores se encaixam bem aos personagens, destaque evidente para Hopkins, que dá o peso necessário ao All-Father Odin, mas sem, no entanto, ofuscar os demais atores e nem sobressair sobre o protagonista.

Desse mal se aproxima Tom Hiddleston com seu nefasto Loki, interpretado com interessante capacidade. Seus olhares e expressão corporal personificam o Deus da Trapaça em toda sua glória maligna e, quando em cena ao lado do Thor interpretado por Hemsworth, chegam a eclipsá-lo.

Porém, um olhar mais delicado sobre o filme demonstra uma intenção do diretor nisso. Thor representa a força da juventude, o poder imenso sem inteligência e tomado pela ingenuidade típica daqueles que não viveram ainda o suficiente para identificarem o que está além do que pode ser visto. Ele é um rei em formação, um processo em andamento, uma pedra sem lapidação.

Já Loki representa o cinismo e o conhecimento distorcido, a inteligência e a sagacidade aplicadas de maneira egoísta e mesquinha. Aqui não há ingenuidade, apenas a esperteza comum aos golpistas e um amadurecimento precoce, advindo da necessidade de subverter a ordem estabelecida.

Nesse sentido, a escolha dos atores acaba sendo ainda mais acertada. Hemsworth transparece essa vitalidade de jogador de futebol americano, enquanto Middleston se encaixa mais no perfil de frio e calculista jogador de pôquer.

Roteiro simples, mas bem amarrado

A premissa de "Thor" é bastante simples. O jovem e arrogante príncipe de Asgard, Thor, iludido por seu irmão invejoso, Loki, toma decisões erradas que complicam a vida de todo o reino. Seu pai, Odin, para ensinar um pouco de humildade ao futuro rei, tira seus poderes e o manda para Midgard, ou a popular Terra, como a chamamos. Aqui ele conhece a bela Jane e descobre o valor de se doar pelas pessoas.

Bem, as nuances shakespereanas não estão aí por acaso (pai, irmão traidor, etc.), senão a direção não seria de Branagh. O tom épico, grandiloquente, fez por outra dá as caras, mas isso ocorre de maneira natural, o que admira, pois a possibilidade de virar uma coleção de canastrices era enorme. Ponto para a escolha acertada dos atores.

A simplicidade do roteiro é um bom caminho para apresentar Thor à massa. Fugiu-se assim de tentar encaixar alguma aventura das HQs na película e foi possível alcançar um dos grandes méritos do filme: o de gerar empatia no público, por meio da humanização dos personagens.

Nos quadrinhos, as melhores aventuras de Thor sempre envolvem outros deuses, passeios pelos reinos dominados por Hela ou Surtur (equivalentes a algum tipo de inferno) e combates de grandeza extrema – que são totalmente plausíveis nas HQs, mas cuja transposição de forma mais completa para o cinema exigiria tempo, dinheiro e roteiro que não se enquadram no meio.

Para a comunidade de fãs, fica o prazer de ver retratado de forma bastante fiel os Warriors Three (Hogun, Fandral e Volstagg), Heimdall e Lady Sif, apesar de o comportamento politicamente correto dominante em Hollywood ter transformado Hogun em oriental e Heimdall em negro. Pois, lembremos, eles eram mitos nórdicos... todo mundo era loiro de olho azul ali. São detalhes que costumam incomodar os fãs, mas a estrutura da narrativa foi tão cuidadosa, que não soou como desrespeito ou descaso – o que mais incomoda aos aficionados.

No geral, "Thor" pode ser considerada uma boa adaptação de quadrinhos. Não é ótima como o primeiro "Homem de Ferro" e nem espetacular como os dois "Batman" recentes. Mas é bastante precisa, honesta tanto com o público geral quanto com os fãs, e se integra de uma forma natural e nem um pouco forçada com o universo criado pela Marvel no cinema.

Mesmo com os efeitos especiais um tanto quanto simples, "Thor" é uma daquelas aventuras divertidas e que agradam todas as idades, como todo bom blockbuster deve ser. E, mais ainda, como deve ser um filme vindo dos quadrinhos de super-heróis (esses mitos modernos). Maniqueísmo, grandiosidade, ensinamentos morais, amor (claro que esse elemento também estaria presente) e uma dose de humor. Tudo misturado e embrulhado num belo pacote de ação, capas, espadas e, claro, martelo.