quarta-feira, novembro 16, 2011

Homens de Honra: a máfia ataca os quadrinhos


Que as HQs são meios capazes de contar qualquer tipo de história já não é novidade alguma. Mas seria possível alcançar o nível de envolvimento e profundidade que alguns gêneros - como o policial, por exemplo, pedem? Homens de Honra, lançamento da Panda Books (em sua primeira empreitada no mundo dos Quadrinhos) demonstra que sim e com a qualidade mantida em alto nível. 

É interessante ver como o mercado nacional de HQs está cada vez se abrindo mais e permitindo a publicação de uma obra como essa. Os autores brasileiros dificilmente se aventuram pelos thrillers. Parece haver uma preferência geral por dramas, psicodelias sensíveis e comédias. Vez ou outra alguma aventura e os super-heróis de sempre produzidos pelos brazucas, mas publicados pelas grandes editoras lá de fora.

A pergunta do primeiro parágrafo deste texto é uma provocação barata. É claro que uma boa narrativa policial pode ser escrita nos quadrinhos. Ed Brubaker, acompanhado de Greg Rucka, demonstrou isso na excepcional série Gotham Central, em que fazia os policiais da cidade quiróptera se transformarem em estrelas dignas de um CSI ou de um Law & Order, às vezes até melhor do que nos acostumamos a ver na TV. Ele ainda fez os ótimos trabalhos autorais no gênero, com Criminal e Incognito.

O já transmidiático Sin City nada mais é do que uma grande - e excelente - história policial, com todas as nuances e clichês que o gênero pede. A arte de Frank Miller dá o ritmo certo para o leitor acompanhar as desventuras de desajustados na mais desajustada ainda Basin City.

É justamente Sin City a inspiração maior para este Homens de Honra (para ficarmos nas HQs, pois as referências à trilogia cinematográfica d' O Poderoso Chefão são absolutamente constantes). A graphic novel conta a história de Lorenzo Galantuomo, um homem atormentado por guardar um antigo segredo que poderá mudar para sempre o destino da máfia italiana mais famosa do mundo, a Cosa Nostra.

Colocando o cenário dessa forma, pode parecer que teremos uma ação vertiginosa pelas paisagens da Sicília, mas a escrita hábil do autor Wagner Patti consegue costurar o Brasil nesse processo de uma maneira  inteligente e que cria uma interessante conexão com os leitores.

O parceiro de Patti no crime é Edson Leal, que chama atenção pelo layout esperto, uma montagem de páginas de grande sensibilidade e um uso da "câmera" muitas vezes surpreendente. Closes e super closes são feitos para gerar impactos na medida certa. Também chama atenção seu trabalho com as expressões faciais dos personagens. Talvez por se dedicar tanto a esses aspectos, seus backgrounds não sejam os mais desenvolvidos possíveis. Nada que incomode o desenrolar da ação, mas é algo a ser trabalhado em obras futuras.

Homens de Honra tem a dose certa de ódio, poder, vingança, corrupção, traição e morte. E ainda presenteia o leitor com um final  inesperado e impactante. A obra tem um imenso potencial transmidático, ao passar por suas páginas - que têm um intenso ritmo cinematográfico - é quase possível ver movimento nas imagens e ouvir uma trilha de Nino Rota interligando toda a ação.

Com toda essa qualidade, cabe ainda ressaltar o desenvolvimento do projeto, como ele veio a ser o livro que hoje está à disposição nas livrarias. O autor Wagner Patti dedicou-se a colocar o livro de pé. Escreveu o roteiro, pediu opiniões, pesquisou, enfim, trabalhou. Encontrou em Edson Leal alguém disposto a levar a ideia a frente e, com o trabalho pronto, puseram-se a fazer contatos, buscar possibilidades e foram premiados com a publicação pela Panda Books. A lição que eles ensinam é de que quando há qualidade e trabalho, o mercado tem total possibilidade de absorver as produções nacionais. E se as editoras investem, é porque existem leitores.

Leitores que agora podem conhecer, em vermelho pleno, o interior sangrento de uma tradicional famiglia mafiosa.

Livro: Homem de honra
Autores: Wagner Patti e Edson Leal
Formato: 21 x 28cm
Páginas: 128
Preço: 39,90

segunda-feira, setembro 05, 2011

Fazendo o dia ficar mais claro

Lanterna Verde, primeira iniciativa da Warner para combater o sucesso do universo integrado Marvel nos cinemas, foi alvejado cruelmente pela crítica – tanto a da massa, quanto a dos fãs. Mas será que o filme tem tantos problemas assim?

Em primeiro lugar é preciso contextualizar o personagem. O Lanterna Verde como um policial intergalático nasce na década de 1960. Ele é um dos primeiros super-heróis a iniciar a chamada “Era de Prata” dos quadrinhos, ao lado do veloz Flash. Naquele momento, como bem conta Grant Morrison em Supergods (2011), o piloto de teste Hal Jordan, identidade secreta do herói, representa o ideal norte-americano da corrida espacial. É o piloto destemido que recebe dos céus a missão de ser o protetor do modo de vida tido como correto, justo e ordeiro. Policial pleno daquela realidade. Qualquer semelhança com o posicionamento dos EUA na Guerra Fria não é mera coincidência.

O que então faria um personagem como aquele se tornar relevante para a audiência de hoje, que nasceu num mundo em que o Muro de Berlim não passa de uma alegoria num livro de História? A resposta estava mais perto do que poderia se imaginar: dentro do coração do homem contemporâneo, refém de sua condição fragilizada e amedrontada face ao novo mundo de novidades constantes e igualdade plena dos sexos, continentes, mercados e tudo mais. Um mundo pós 11 de setembro, no qual o medo é presença constante.

Pelas hábeis mãos do hoje Chief Creative Officer (algo como “chefe criativo”) do Universo DC, o então “apenas” escritor Geoff Johns, os Lanternas Verdes se configuraram como a representação da Força de Vontade, acompanhados agora por uma miríade de cores, cada uma indicando um sentimento ou condição humana. No filme, temos apenas o encontro com o Amarelo do Medo e o próprio Verde. Mas os quadrinhos nos apresentam ainda o Vermelho da Ira, o Azul da Esperança, o Índigo da Compaixão, o Laranja da Ganância, o Violeta do Amor, além do Negro da Morte e o Branco da Vida.

Se todas essas cores serão vistas nos próximos filmes, só tempo dirá. Fato é que Hal Jordan passa a ser o homem destemido, que consegue moldar a realidade a partir de sua vontade. Desejo interno de qualquer um.
As críticas mais pesadas acusaram o filme de ter vilões fracos, a saber: o telepata Hector Hammond e a entidade do medo, Parallax. Mas haveria algo maior para ser enfrentado do que o medo em si? Talvez a representação imagética de Parallax não tenha sido a melhor possível. Ele, basicamente, é uma nuvem com rosto e tentáculos. Nos quadrinhos é um ser de aspecto reptiliano. Talvez funcionasse melhor na tela do que a tal nuvem, mas o que estava em jogo era o conceito, o ideal de superar o medo. Ou, como o filme bem coloca, de aceitar que ele existe para então ser capaz de suplantá-lo.

Em termos cinematográficos, os efeitos oscilam demais. A arte conceitual do planeta-sede da Tropa dos Lanternas Verdes, Oa, é magnífica. E funciona ainda melhor em 3D. Os personagens criados por computador para fazer parte da Tropa também são bons. Mas algumas cenas de batalha espacial deixaram a desejar.

O maior problema, no entanto, não é esse. A questão é que o roteiro de Lanterna Verde fica no meio do caminho entre ser uma ópera galáctica, nos moldes de Star Wars e uma fita de super-herói mais tradicional, como o recente (e excelente) X-Men First Class.

Entre tentar aproximar o público com cenas passadas na Terra ao invés de investir mais em aprofundar os conflitos internos de Hal Jordan, um homem atormentado pela lembrança da morte de seu pai e pela vontade de realizar aquilo que ele deixou por fazer, o filme perde a oportunidade de gerar ainda mais empatia junto à audiência.

Mas isso não faz com que seja um filme ruim. Longe disso. É divertido e interessante, com atuações bastante equilibradas. Ryan Reynolds, que faz o papel-título era um dos grandes temores da comunidade de fãs. Conhecido por papéis “engraçadinhos”, na pele de Hal consegue transparecer a impetuosidade característica do personagem, conferindo ainda uma certa graça a todo o processo. Evidente que não se trata de um ator da categoria de Robert Downey Jr e seu Homem de Ferro. Mas é superior ao Thor de Chris Hemsworth e ao Capitão América de Chris Evans. Já a mocinha vivida por Blake Lively, adorada pelas adolescentes por sua Serena de Gossip Girl, convence como a forte Carol Ferris, dublê de piloto e executiva.

Mas o grande destaque do elenco vai para os antagonistas.

O Sinestro de Mark Strong é duro, viceral, um representante da ordem pronto para buscar o domínio completo. A todo momento já se vê o futuro líder da tropa que leva seu nome e que espalhará o medo pela galáxia. Já o Hector Hammond de Peter Sasgaard tem um olhar triste, sofrido. Um outcast completo, que busca na ciência a chance de sobressair de alguma maneira. Se a medida de um herói é dada pelo tamanho de seus opositores, o Lanterna Verde já consegue se posicionar bem. Mas, pelo que indica o filme, ficará ainda melhor quando tiver Sinestro como seu principal opositor.

Lanterna Verde é melhor do que a maioria das críticas pintou. Para os fãs, não há muito que reclamar, pois a fidelidade ao material original é enorme. Mas se a DC (e a Warner, sua proprietária) querem criar um universo capaz de rivalizar com a Marvel e seus Vingadores vindouros, é preciso trabalhar um pouco melhor.

Independente disso, a grande virtude do filme é ser puramente divertido. Sem a densidade de Batman - The Dark Knight. Lanterna Verde é aquele filme que faz as crianças quererem colocar anéis nos dedos e enfrentar o escuro de seus quartos. Num mundo como o nosso, isso já faz o dia brilhar muito mais claro.


sexta-feira, agosto 05, 2011

A influência dos quadrinhos em outros meios


Um dos pontos da minha pesquisa no TIDD é a relação entre os quadrinhos e outras mídias, de que forma essas situações se estabelecem.

Que as HQs possuem uma grande força imagética e narrativa, isso é bastante óbvio. O que surpreende é o raio de ação dessas produções, que chega até a influenciar a TV brasileira.

Um incrível exemplo de influência e, por que não, salto transmidiático: de Watchmen nas HQs, para o cinema e para a telinha, em O Astro:

Melhor chamarmos de influência, inspiração. E não de plágio, palavra forte demais para os tempos de compartilhamento e creative commons em que vivemos.

Confira e tire suas conclusões:






Essa é para pensar bastante.

sexta-feira, julho 01, 2011

Brincando de ser Deus

Parte da minha pesquisa no TIDD-PUCSP fala sobre a mudança que jogos e outras mídias causam na forma que consumidores e produtores se relacionam com as Histórias em Quadrinhos.

Aí me deparo com essa declaração, de Neil Gaiman, escritor reconhecido não somente nos Quadrinhos, mas também na Literatura (e fica a provocação: não poderíamos colocar tudo na mesma cesta?).

"There have been two times in my life where I know how God feels, and only two. The first was in 1988, writing Black Orchid, the first time I brought Batman on and had him say words that I’d written. I was like, “Batman is saying words that I’ve written. If the world ends tomorrow, I will still have made Batman talk. It probably won’t, and this comic will be published, and Batman will be in it, and he will have said stuff that I wrote.”


Entrevista completa aqui.
Escrever, assim como jogar, é - realmente - ter com os Deuses.

sexta-feira, junho 03, 2011

Homem-Aranha em vários tempos

A pesquisa relacionando Quadrinhos e seus saltos para outras mídias nunca pareceu tão boa. Depois do excelente Spider-Man - Shattered Dimensions aproxima-se o lançamento de Spider-Man: Edge of Time.

Homem-Aranha 2099
Pelas imagens do trailer divulgado na E3, a aventura promete. O roteiro do clássico autor de HQs Peter David, conhecido por seus trabalhos em Hulk, Supergirl e, o motivo de ser convocado para esse game, Spider-Man 2099.

A Beemox, que produz o game com a Activision, avisa que está criando um processo de interligação entre as diferentes linhas temporais nas quais o game se passa, no qual o que acontece em uma "fase" do jogo influenciará as demais, alterando a narrativa do jogo.

É interessante verificar o chamado para roteiristas de Quadrinhos para os games, como também acontece com Paul Dini com Batman. Ele é o autor da narrativa de Arkham City. Jogo que, aliás, terá a novidade de ter a Mulher-Gato como personagem controlável.

Mas isso é história para outro post... Por aqui, segue o trailer de Spider-Man: Edge of Time.

quarta-feira, maio 04, 2011

Um novo tempo

A seguir, apresento uma resenha do filme "Thor", feita sob novas premissas. Diferente do que fiz ao longo desses vários anos de existência deste blog, essa resenha contem elementos diferentes, mais analíticos e menos opinativos, do que muitas vezes fiz com outros filmes, revistas em quadrinhos, CDs, entre outras produções artísticas.

Faz parte do processo da minha pesquisa acadêmica, em andamento no programa de pós-graduação do TIDD da PUC-SP, na qual estudo as relações entre as Histórias em Quadrinhos de Super-Heróis e seu potencial como base de franquias transmídias.

Em breve (se tudo continuar no ritmo correto), devo criar um site específico para as questões acadêmicas e este e outros trabalhos migrarão para lá. Enquanto isso, continuarei utilizando este espaço.

Segue então minha visão sobre a chegada do Deus do Trovão à telona. Agradecimentos prévios ao velho amigo M. Cury por vários insights.

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Um deus de carne e osso

Demonstrando todo seu poderio criativo, a Marvel Studios apresenta ao cinema – e por consequência ao público geral, fora da comunidade de fãs – o personagem que, teoricamente, seria o mais difícil de fazer essa transição transmidiática: Thor, o Deus do Trovão.

Quais os motivos dessa dificuldade? Bem, Thor é um personagem ou, melhor dizendo, um mito (daqueles antigos, clássicos) nórdico. Que é retomado na década de 60 pelo mago dos quadrinhos Stan Lee para ser o Superman da Marvel. Mas o velho e bom Lee não é bobo e nem nada e o faz loiro, cabelos compridos ao vento, com um estilo de fala que soa estranha aos ouvidos da maioria. Ou seja, Thor não é nada mais nada menos do que um hippie (Estamos na década de 60, não se esqueça).

Superman hippie. Nada menos do que genial. Porque Superman pode ser qualquer coisa, mas nunca vai ser hippie. Nem liberal, em qualquer sentido. Mas enfim, voltemos ao tema nórdico. O ponto crucial na transposição de Thor ao cinema está no fato de que sim, ele é um deus. Como explicar isso para o pessoal puritano dos States? Ainda mais agora que a Marvel é da Disney... xiii... vai complicar.

Mas o filme dirigido por Kenneth Branagh resolve isso rapidamente, colocando Thor, Odin, Loki e todos mais como seres de outra dimensão, adorados pelo povo primitivo do passado dos países nórdicos como deuses. Dito isso, caminho aberto para seguir em frente e contar uma ótima história.

Atuações ótimas

"Thor" teve um budget que pode ser considerado médio, US$ 150 milhões. Comparando, o primeiro "Homem de Ferro" – que abriu as portas das telas grandes para a Marvel – custou R$ 140 milhões. Já o segundo "Homem de Ferro" teve orçamento de US$ 200 milhões. Qual o impacto desses números? Bem, em "Thor" o resultado está em efeitos especiais apenas razoáveis.

Fica bem evidente que o dinheiro foi focado nos atores. Anthony Hopkins faz Odin, deus supremo da mitológica Asgard. Natalie Portman faz a mocinha da fita, a Dra. Jane Foster (aliás, cabe aqui uma ressalva interessante. Nos gibis, Jane Foster era uma prosaica enfermeira. Aqui, foi alçada a Doutora em Astrofísica. Sinal dos tempos). O ótimo ator inglês Tom Hiddleston surpreende como Loki e sobra espaço até para a bela veterana Rene Russo, como a rainha e esposa de Odin, Frigga. O interessante é que o papel-título ficou com o jovem e relativamente desconhecido australiano Chris Hemsworth, que oferece a medida certa ao papel.

Todos os atores se encaixam bem aos personagens, destaque evidente para Hopkins, que dá o peso necessário ao All-Father Odin, mas sem, no entanto, ofuscar os demais atores e nem sobressair sobre o protagonista.

Desse mal se aproxima Tom Hiddleston com seu nefasto Loki, interpretado com interessante capacidade. Seus olhares e expressão corporal personificam o Deus da Trapaça em toda sua glória maligna e, quando em cena ao lado do Thor interpretado por Hemsworth, chegam a eclipsá-lo.

Porém, um olhar mais delicado sobre o filme demonstra uma intenção do diretor nisso. Thor representa a força da juventude, o poder imenso sem inteligência e tomado pela ingenuidade típica daqueles que não viveram ainda o suficiente para identificarem o que está além do que pode ser visto. Ele é um rei em formação, um processo em andamento, uma pedra sem lapidação.

Já Loki representa o cinismo e o conhecimento distorcido, a inteligência e a sagacidade aplicadas de maneira egoísta e mesquinha. Aqui não há ingenuidade, apenas a esperteza comum aos golpistas e um amadurecimento precoce, advindo da necessidade de subverter a ordem estabelecida.

Nesse sentido, a escolha dos atores acaba sendo ainda mais acertada. Hemsworth transparece essa vitalidade de jogador de futebol americano, enquanto Middleston se encaixa mais no perfil de frio e calculista jogador de pôquer.

Roteiro simples, mas bem amarrado

A premissa de "Thor" é bastante simples. O jovem e arrogante príncipe de Asgard, Thor, iludido por seu irmão invejoso, Loki, toma decisões erradas que complicam a vida de todo o reino. Seu pai, Odin, para ensinar um pouco de humildade ao futuro rei, tira seus poderes e o manda para Midgard, ou a popular Terra, como a chamamos. Aqui ele conhece a bela Jane e descobre o valor de se doar pelas pessoas.

Bem, as nuances shakespereanas não estão aí por acaso (pai, irmão traidor, etc.), senão a direção não seria de Branagh. O tom épico, grandiloquente, fez por outra dá as caras, mas isso ocorre de maneira natural, o que admira, pois a possibilidade de virar uma coleção de canastrices era enorme. Ponto para a escolha acertada dos atores.

A simplicidade do roteiro é um bom caminho para apresentar Thor à massa. Fugiu-se assim de tentar encaixar alguma aventura das HQs na película e foi possível alcançar um dos grandes méritos do filme: o de gerar empatia no público, por meio da humanização dos personagens.

Nos quadrinhos, as melhores aventuras de Thor sempre envolvem outros deuses, passeios pelos reinos dominados por Hela ou Surtur (equivalentes a algum tipo de inferno) e combates de grandeza extrema – que são totalmente plausíveis nas HQs, mas cuja transposição de forma mais completa para o cinema exigiria tempo, dinheiro e roteiro que não se enquadram no meio.

Para a comunidade de fãs, fica o prazer de ver retratado de forma bastante fiel os Warriors Three (Hogun, Fandral e Volstagg), Heimdall e Lady Sif, apesar de o comportamento politicamente correto dominante em Hollywood ter transformado Hogun em oriental e Heimdall em negro. Pois, lembremos, eles eram mitos nórdicos... todo mundo era loiro de olho azul ali. São detalhes que costumam incomodar os fãs, mas a estrutura da narrativa foi tão cuidadosa, que não soou como desrespeito ou descaso – o que mais incomoda aos aficionados.

No geral, "Thor" pode ser considerada uma boa adaptação de quadrinhos. Não é ótima como o primeiro "Homem de Ferro" e nem espetacular como os dois "Batman" recentes. Mas é bastante precisa, honesta tanto com o público geral quanto com os fãs, e se integra de uma forma natural e nem um pouco forçada com o universo criado pela Marvel no cinema.

Mesmo com os efeitos especiais um tanto quanto simples, "Thor" é uma daquelas aventuras divertidas e que agradam todas as idades, como todo bom blockbuster deve ser. E, mais ainda, como deve ser um filme vindo dos quadrinhos de super-heróis (esses mitos modernos). Maniqueísmo, grandiosidade, ensinamentos morais, amor (claro que esse elemento também estaria presente) e uma dose de humor. Tudo misturado e embrulhado num belo pacote de ação, capas, espadas e, claro, martelo.


terça-feira, março 08, 2011

A cidade e o anticarnaval

Jantando com amigos durante este carnaval, alguém contou a história de alguns estrangeiros que estavam espantados com a calmaria da época aqui na cidade de São Paulo. Afinal, eles ouviram comentários de que por aqui, durante essas festividades, as mulheres (todas elas) andavam nuas pelas ruas, obrigando os homens a fazer sexo com elas.

Loucura, não é mesmo? Fiquei então pensando no espanto daqueles e de outros gringos ao andarem por São Paulo durante o carnaval. A tranquilidade e o vazio que toma conta da maior parte dessa imensa metrópole.

Evidente que em outras cidades, como Salvador, Rio e Recife, o carnaval toma conta de quase tudo, mas por aqui é bem diferente. É possível se esconder de tudo e viver quatro dias de férias, dentro do seu universo conhecido, mas com um twist que faz toda diferença. Um anticarnaval completo.

“Tem graça?”, pergunta o incauto. Ora... e o que mais teria?

sexta-feira, março 04, 2011

Essas tais mídias sociais

Fico inconformado com a falta de visão de certas empresas. Senão, vejamos: o tal do Orkut já não é lá essas coisas há bastante tempo. Ainda assim, tem gente pra caramba que ainda usa... prova disso é que não passa um dia (sem brincadeira, nem exagero) em que uma pessoa não peça para ser adcionado na minha comunidade, chamada DC Comics Brasil.

Essa comunidade é o motivo da histórinha de hoje. Pois bem, a mesma existe desde, exatamente, dia 27 de maio de 2004. É, desde um bom tempo atrás, a maior comunidade dedicada à DC da internet brasileira. Hoje são quase 12 mil pessoas.

Imagina-se, portanto, que as empresas que lidam com esse ramo de atividade, que é, diga-se de passagem, um dos mais lucrativos do mundo (Batman - The Dark Knight arrecadou um BILHÃO de dólares só em ingresso de cinema), gostariam de falar com essa comunidade de fãs de forma direta e com custo baixo - a grande sacada empresarial das mídias sociais. Isso acontece? É claro que não!

Hoje, dia 3 de março de 2011, quase 7 anos depois, recebo a primeira mensagem da Panini para mim, o dono da comunidade. Panini que é, supostamente, a maior ediotra de quadrinhos no Brasil. Supostamente porque nenhuma empresa realmente grande deixaria passar a oportunidade.

E qual é o e-mail? Um convite para particpar de um concurso. Sério mesmo, Panini? Aí não dá, né?

Os caras lidam com um produto que é respirado, expandido, recriado e tudo mais o tempo todo nessas tais mídias sociais e tudo de relacionamento que conseguem é me mandar um convite pra participar de um concurso?

Amadorismo define.

sexta-feira, setembro 24, 2010

16 vistos aos 30

Fazia pelo menos 6 anos que eu não assistia um dos clássicos do falecido John Hughes, Sixteen Candles, que tem o título medonho de “Gatinhas e Gatões” aqui no Brasil.

Ainda consigo me lembrar com muita clareza de como adorava o filme quando era moleque. Era um dos mais passados na Sessão da Tarde. Ou pelo menos é assim que ficou gravado na minha memória.

Revendo hoje, graças à homenagem que o Telecine Cult vem fazendo a Hughes, acredito ter conseguido identificar o que faz essa produção ser tão relevante para quem tem entre trinta e quarenta anos atualmente.

Hughes tem a capacidade de captar e colocar na tela aquilo de mais dolorido e real na vida dos adolescentes. Mesmo com questões como “ganhar um carro” estando distantes de quem tem 16 anos no Brasil, aquela nuvem estranha que parece sobrepor-se à realidade adolescente, nublando decisões, anseios e expectativas está ali. E cada um dos personagens se encaixa perfeitamente em alguém que você conhece/conheceu.

Pode ser o exagero das situações, como o bando nerd pagando para ver a calcinha de uma menina no banheiro da escola, ou o jeito cool fingido de quem quer parecer que sabe muito mais do que realmente sabe – como todo adolescente. Não importa. O fato é que a empatia é enorme.

A cena de abertura, mostrando apenas pés, dorsos e braços abraçados é genial. Sem mostrar nenhum rosto, já se define a qual tribo cada personagem pertence e como isso definirá os caminhos que ele irá percorrer. Evidentemente (e aí mora a graça do filme), muitas dessas expectativas serão frustradas. Outras se completarão, afinal, a mocinha tem que ficar com o mocinho no final, para que as coisas se encaixem e alegrem a platéia. A porrada de Hughes está nas entrelinhas, não na estrutura tradicional.

É quando ele faz o galã questionar o vazio de seus relacionamentos. Ou ainda quando o novato nerd consegue ficar com a gostosona e ambos gostam disso. E também ao ver a irmã mais velha linda e cobiçada no passado entrando num casamento fadado à mediocridade.

A ação de Sixteen Candles se passa toda em dois dias. Com uma bela noite interligando-os. E quem nunca teve uma noite louca, que começou de uma forma e terminou completamente fora das expectativas, muito melhor do que se poderia imaginar?

Assistir a um filme como esse, simples, tranquilo, sem nenhum truque ou efeito especial, apenas atuações especialíssimas de gente como Anthony Michael Hall e a eterna musa, Molly Ringwald, demonstram a falta absurda que John Hughes faz ao cinema atual, que privilegia a técnica em detrimento do conteúdo.

Hughes, com roteiro, atores e direção, consegue nos levar para um mundo muito mais rico, criativo e emocionante que qualquer Pandora criada por computador.



quinta-feira, setembro 16, 2010

Do movimento em contraponto à estática

Ser um estranho numa terra estranha traz diferentes sensações. Há um ar de novidade que se combina com a constante possibilidade de errar. Sim, porque diante do desconhcido o erro é possível e perdoável.


Mas o que faz com que não tenhamos essa mesma atitude quando nos vemos frente aos desafios ditos comuns, de nosso cotidiano? Por que não podemos errar livremente?


Bem, antes de responder a essa pergunta, é necessário pensar onde está essa resposta: no sujeito ou no objeto. Ou seja, em nós mesmos ou nos outros e, por consequência, naquilo que nos é imposto. Ou ainda, voltando ao sujeito, naquilo que acreditamos que irão pensar de nós.

É direito inapelável do Homem tentar constantemente expandir seu conhecimento e, para isso, buscar caminhos não trilhados anteriormente, errando ou mudando a direção quantas vezes considerar necessário.

Mais: deveria ser uma obrigação de todos expandir os horizontes, abrindo a cabeça como uma esponja que recebe mais e mais água da fonte inesgotável do conhecimento.

Mas este não é um, hoje tão tradicional na web, post pago de companhias aéreas ou agências de turismo. Não. Pois há um intenso universo pronto a ser descoberto com um simples abrir de janelas. Porém, a rotina faz com que nos esqueçamos que existem, muitas vezes, mistérios deliciosos ao alcance de nossas mãos.


Trata-se da vontade, de ajustar o olhar e de saber que não é preciso cruzar o oceano para que a vida tenha cores e sabores diferentes. Basta seguir o mesmo instinto humano que nos fez descobrir o fogo, a roda e mesmo a gravidade! O impulso de conhecer e assim, evoluir. E, como já foi dito, com o avanço da civilização, nos tornando ainda mais humanos.



Toronto, numa bela tarde de Setembro/2010

quinta-feira, agosto 19, 2010

Assim eu não aguento!

Sério, eu sei que os caras são meus amigos e tal... mas é que é tão bom que dói.

Jack Jeans, na sala de casa, tocando Time of the Season.


quarta-feira, agosto 11, 2010

Voltando, eu? Nem...

É, não estou voltando. Pelo menos ainda não. Estou sob a espada do trabalho e do estudo, impedido assim de dar vazão às minhas insanidades - razão de existir deste blog.

Tem também o fato de eu não querer destruir isso aqui, mas também não saber o que fazer com esse espaço.

Enfim, como o google analytics me diz que ainda tem gente acessando isso aqui, fiquem com uma provocação feita lá no EVblog, por minha digníssima: Como você assina seus e-mails?

segunda-feira, abril 05, 2010

No ouvir de vozes

Dia desses fui surpreendido por um agradecimento. E veio de uma fonte que eu nem imaginava. Vida de professor te presenteia com coisas assim.

Numa sala cheia, é impossível prestar atenção em todos o tempo todo. Aí, num momento em que você olha para um canto, no outro maravilhas estão acontecendo. As palavras vão entrando pela mente das pessoas e gerando reações inesperadas, botando em movimento engrenagens que não existiam antes, ou azeitando outras que pareciam emperradas.

Seja como for, o tal agradecimento veio por ter sido eu o portador de uma mensagem que serviu como a última gota num transbordamento emocional importante naquele instante da vida daquela pessoa.

Isso me fez pensar nessas encruzilhadas que a realidade nos impõe vez por outra. Nesses pontos de decisão para os quais nos conduzimos em nossa trajetória terrena.

O que me levou a lembrar de que todos, sem exceção, possuímos uma voz interna. “Consciência”, dirão alguns. “Intuição”, chamarão outros. Há quem nomeie como “Instinto” até. Pouco importa a nomenclatura. O que importa é que a voz existe e conversa conosco. Para alguns com frequência, para outros apenas em escassos momentos.

É aquela voz que diz: “Beije a garota”, “Peça um aumento”, “Peça demissão”, “Pule”, “Não pule”.

Interligando a encruzilhada da vida com a voz, questiono se devemos segui-la sempre. Muitos dirão que sim. Mas e se fizermos o contrário, se rumarmos exatamente para o oposto? Seria o fim ou a oportunidade de um novo começo?

Não há respostas fáceis. Muito menos resposta única. Mas há a insofismável certeza de que é incerteza - e não o conformismo – o fator catalisador da genialidade humana.

sexta-feira, novembro 27, 2009

A vista do meu ponto

Nunca pensei que ia chegar até aqui.

Sonhei com os 15: achava que seria um adolescente bacana quando tivesse essa idade. Mas ela passou e nem sei se algum dia eu fui um bacana.

Sonhei com os 18: saíria por aí motorizado e a vida seria outra. Mas a vida já tinha me levado pra longe e virado a minha cabeça.

Aí sonhei com os 23, quando acabasse a faculdade, para ter liberdade. E a liberdade se mostrou louca e foi tudo muito melhor do que o sonhado.

E agora chegam os 30. Uma data com a qual eu nunca sonhei. Achava distante. Pensava que seria super diferente, adulto. O que não deixa de ser verdade. Mas eu acreditava que haveria uma seriedade estranha, uma chatice natural (como se ser chato fosse algo natural).

Porém, nada foi assim. Os 30 chegaram e tudo foi melhor. Se eu voltasse no tempo e dissesse para mim mesmo aos 24 que seis anos mais tarde eu seria um dono de empresa casado, professor universitário, motociclista e tatuado, provavelmente eu apontaria para mim mesmo o dedo e riria alto, muito alto.

O que só comprova uma coisa: a realidade é muito melhor que qualquer sonho. E que venham os próximos 30. A festa apenas começou.

terça-feira, outubro 27, 2009

Ainda existe solução

Notícia de hoje diz que o Governador de São Paulo, José Serra, assinou lei que efetiva a partir de fevereiro de 2010 o “Programa de Valorização pelo Mérito”, para os professores da rede pública de ensino fundamental e médio.

Entre outras medidas, essa nova lei diz que os professores serão promovidos (ou seja, ganharão aumento de salário), ao conseguirem uma nota mínima em provas atuais. Importante nessa história é que, no máximo, 20% dos professores serão promovidos por ano.

Isso significa que, para avançar na carreira – como em qualquer outra profissão, será necessário que o professor se esforce, estude e queira algo mais da vida do que apenas mamar nas tetas do Estado.

Como professor de ensino superior, enxergo a medida como mais do que válida. O ofício de ensinar, como todos os demais, deve seguir uma linha que privilegie a meritocracia.

O que se vê atualmente nas escolas estaduais é, na maior parte dos casos, uma imensa massa de folgados se locupletando dos recursos públicos, pouco se importando com os elementos fundamentais da história: os alunos e o próprio ensino em si.

Ninguém entre os professores estuda, todos reclamam e o mínimo compromisso com educando, aquele ser que está ali desejoso de receber conhecimento, fica perdido e tido como um alguém sem solução.

Transfere-se para o aluno uma responsabilidade que nunca foi e nem nunca será dele. Diz-se que ele é alguém sem solução, que não quer aprender e evoluir. Será mesmo assim ou os comportamentos dos mais jovens reproduzem o de seus supostos mestres?

Pior de tudo é que o sindicato, como bem coloca o Secretário da Educação do Estado, em entrevista a Veja, distorce seu direito legítimo de defender o trabalhador, tornando-se apenas e tão somente um palanque para partidecos de uma ridícula extrema esquerda. Mais uma vez esquecendo que o principal interessado, o aluno, é quem sofre com o descaso.

Independente do quadro atual, a idéia do governo é válida e merece aplausos. Vejamos agora se a massa ignorante e que só sabe pensar em si mesmo consegue ir além da própria falta de consciência e perceber que este País ainda pode ter um futuro e que ele está, total e definitivamente, na educação.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Homecoming

Life is changing. That you know.

But have you changed too?


Are you waiting for something else entirely?

Or time around you just stopped?


Living is an adventure. All the time.

Killing in the nature, running like beasts

Here we feel, here we fall.

quarta-feira, junho 24, 2009

Evolução

Por muito tempo, tempo demais inclusive, o cinema brasileiro foi assolado pela chamada "Estética da Fome". É aquela história de ficar mostrando, insistentemente, a sequência: sol-terra-rachada-menino-barrigudinho.

Nada mais cansativo e sem graça. Matéria-prima perfeita para os pseudo-intelectuais desenvolverem sua masturbação acadêmico-social. E um fracasso de público.

O cenário, felizmente, mudou. Produções como "Se eu fosse você" 1 e 2, "Divã", "Sexo, Amor e Traição", entre outras, retomaram o talento nacional para a comédia - que tem raízes na época das chanchadas da Atlântida. Conseguiram com isso reconquistar a audiência.

Além disso, filmes como "Cidade de Deus" e, principalmente, "Tropa de Elite", deram esperança de um outro gênero ser explorado pelas produções cinematográficas nacionais: a ação.

Há quem diga que foi trocado apenas o cenário e a Estética da Fome continua. Sai o Nordeste, entra a Favela Carioca.

Não é bem assim. A qualidade técnica de "Cidade" e "Tropa" estão muito acima de outras bombas produzidas antes no Brasil. Afora a questão de ritmo. São filmes dinâmicos, envolventes. Nem um pouco parecidos com aquele esquema de planos sequência lentos e quase infinitos que carcaterizaram o Brasil durante muitas gerações de cineastas.

A evolução do cinema nacional proporcinou que, agora, possamos ver algo como este "Besouro", que chega ao público em outubro desse ano. Trata-se de uma superprodução (para os padrões nacionais) de ação. Sim, é um filme de luta, mas com uma história totalmente ligada ao Brasil.

O personagem principal é um capoerista, abençoado pelas forças das entidades cultuadas pela Umbanda e pelo Candomblé, que se revolta contra o tratamento que os negros recebiam na década de 1920 no interior da Bahia.

As cenas do trailer lembram muito "O Tigre e o Dragão". Não a toa. Quem coreografa as cenas é Ku Huen Chiu, desse mesmo filme e tambem de "Kill Bill".

Boa notícia, com toda certeza.




domingo, junho 21, 2009

"Crazy... I'm crazy for feelings..."

O reality show "A Fazenda", da Rede Record, está divertindo o público com as maluquices de um bando de sub-celebridades.

O mais interessante do programa era a loucura desmedida do ator e dublê de cantor Theo Becker. Era, porque o cara mais legal acaba de deixar a tal Fazenda.

Uso de remédio para emagrecer, suposta síndrome de abstinência, psicose pura e simples. Não importa! O que valia era Theo nos alegrando todos os dias: ou brigando com todos, ou falando sozinho.

E agora, o que vai rolar? Vai virar uma "galera animada no maior clima de animação e azaração"? Nada mais sem graça.

Agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos. Será que a Record tem a capacidade de se reinventar tal como a Globo, em seus 9 Big Brothers? Difícil dizer.

Enquanto isso, ficamos com alguns dos melhores momentos do doidão mais perdido do Brasil, Theo Becker. Ainda bem que existe You Tube. Pois o programa mesmo ficou sem a menor graça.





quarta-feira, junho 17, 2009

Vergonha: o dia em que o Jornalismo morreu

O dia 17 de junho de 2009 entra para a História do Brasil como o dia da vergonha. Vergonha pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em derrubar a exigência do diploma para exercer a profissão de jornalista.

Na prática, isso significa que, a partir de agora, qualquer um pode se dizer jornalista. Os argumentos dos ministros do STF para a tomada de decisão foram, no mínimo, rasos. O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, disse: "Quando uma noticia não é verídica ela não será evitada pela exigência de que os jornalistas frequentem um curso de formação. É diferente de um motorista que coloca em risco a coletividade. A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão. Não há razão para se acreditar que a exigência do diploma seja a forma mais adequada para evitar o exercício abusivo da profissão".

Ou seja, fomos, todos os jornalistas, comparados a motoristas. E eu quero saber qual é o perigo à vida que um advogado oferece à coletividade. Só consigo pensar que esse profissional mandaria para a cadeia alguém injustamente. Até aí, um mau jornalista, alguém despreparado, sem o menor conhecimento técnico de como escrever um texto jornalístico, pode muito bem acabar com a vida de uma pessoa, colocando sua reputação pessoal e profissional na lama. Alguém aí ainda se lembra do caso da Escola Base?

Já a advogada do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp), Tais Gasparian, que interpôs o recurso julgado hoje pelo STF, afirmou sobre o jornalismo que “a profissão não depende de um conhecimento técnico específico. A profissão de jornalista é desprovida de técnicas. É uma profissão intelectual ligada ao ramo do conhecimento humano, ligado ao domínio da linguagem, procedimentos vastos do campo do conhecimento humano, como o compromisso com a informação, a curiosidade. A obtenção dessas medidas não ocorre nos bancos de uma faculdade de Jornalismo”.

Vamos manter a comparação com a advocacia. Há uma técnica para ser advogado? Até onde se pode ver, a operação do Direito é bem como ela disse, uma “profissão intelectual ligada ao ramo do conhecimento humano, ligado ao domínio da linguagem, procedimentos vastos do campo do conhecimento humano, como o compromisso com a informação, a curiosidade”. Ou não?

Afinal, para ser advogado é preciso saber ler, escrever e falar muito bem (o tal domínio da linguagem), ter compromisso com as informações dos processos e curiosidade para descobrir as brechas da Lei. Em sendo assim, por que é preciso fazer faculdade de Direito para ser advogado? Vamos todos ler os códigos e nos tornar advogados, promotores, desembargadores e juízes, por que não?

O Sertesp tem seus motivos para não querer mais a obrigatoriedade do diploma. A partir de agora, as empresas poderão fazer verdadeiros leilões de salários – afinal, poderão contratar qualquer um, inclusive aqueles sem a menor qualificação, conhecimento ou preparo, e para esses pagar o quanto (menos) quiser.

Chego a questionar os motivos da decisão do STF. Será que os nobres ministros estão cansados de ter gente combativa em seus calcanhares, questionando, por exemplo, os gastos do Judiciário e o absurdo do nepotismo que assolou por anos esse poder?

Pois afirmo sem medo de errar: aqueles sem formação específica, sem uma base cultural sólida e focada nas características de ética, correção e limite ensinados pelas faculdades de Jornalismo, certamente não serão tão combativos.

Mas assim foi decidido. Agora qualquer blogueiro pode se dizer jornalista. E digo isso num blog. Pois este é um espaço pessoal, onde escrevo pelo meu prazer em lidar com as palavras. É entretenimento, não informação. É completamente diferente de um órgão regular de imprensa, que tem um compromisso público de informar, de estar sempre vigilante, fiscalizando idoneamente a sociedade.

Além de vergonhosa, a decisão do STF é um desrespeito com todos aqueles que estão e que já passaram pelos bancos das faculdades de Jornalismo. É também um desrespeito a todos os familiares dessas pessoas, que se esforçaram para que seus filhos, sobrinhos e netos conseguissem concluir um curso superior que, neste 17 de junho de 2009, tornou-se obsoleto.

Temo pelo futuro não só dos meios de comunicação brasileiros, mas pela própria democracia do País – que é recente, estava em fase de avanço e desenvolvimento, e sofre agora o risco de passar por um retrocesso, visto que a qualidade daqueles que deveriam cumprir o papel de vigilantes acaba de escorrer pelo ralo.

Estou de luto. Minha formação, a profissão que escolhi quando ainda era um menino, morreu hoje. E com ela, morre também uma parte de mim. Durmam bem, ministros. Fiquem tranquilos: ninguém estará olhando.

Everything that's old is new again

Revendo os arquivos desse blog, vi um texto que escrevi há uns sete anos. Absolutamente tudo mudou, mas fiquei espantado (de verdade!!) com a qualidade do negócio. Decidi até republicar.

Lá vai:

The old king

There is a new culture, a brand new civilization out there. We don’t know them, we can’t understand them. Because they are modern and young. They are the bright future, while we’re the sad past. One day, they shall came and take us all out of the picture. We’ll be nothing but empty boxes in an empty room.

I, once, was a king. But not a nice one. Mine was the kingdom of lust, pain and where forgiveness and compassion doesn’t had a place to live. Now, I must pay the price for being such a stubborn and mean person.

The newborn princes will build their palaces over my skull and the bodies of my comrades. And there is nothing I can do. Death visited me already. She told me that my time here is short and if she was me, she would try to look for redemption, before it’s too late.

But I had to stay as I am. I shall avoid the storm as long as it’s possible. So, when the bright ones came here, they will respect me, because I stayed true to myself, to my kingdom and to the gods that put me in charge of it.

Then, I will cross the line between this world and the next. The lady in black will escort me. But I will never be forgotten, because every village, even the smallest of all, has a boy or girl who likes to walk in the dark side, under the dim light of the moon. And this person will remember the Black King and will work in my name.

So, the shine people will notice it, but they shall do nothing. Because there is no light without the company of the dark.


Texto meu, inspirado por Neil Gaiman